quinta-feira, 24 de março de 2011

Saindo do Litoral...

Oi gente, não tenho tido muito tempo de internet pra atualizar aqui, mas aqui vai mais um pouquinho de história pra contar...

Continuando de Bombinhas, como havia dito acabei ficando na cidade mais uma noite por conta da chuva. No dia seguinte, segui para Balneário Camboriú, passando pela Interpraias, uma estrada que vai margeando o mar e passa por praias lindas: estaleiros, estaleirinhos, praia do Pinho, Laranjeiras... parei na praia do Pinho pra dar um mergulho ao natural e, chegando em Camboriú, liguei para Fátima e Aparecida, duas irmãs, amigas de meus pais, famosas por suas risadas discretas e pelo bom humor. Almocei com a Fátima e elas me levaram para uma volta rápida pela cidade, já que ainda pretendia seguir para Itajaí para visitar a Fio Nobre, uma cooperativa que faz parte da Justa Trama (www.justatrama.com.br).

Depois de um cafezinho com nega maluca (bolo de chocolate no dialeto local), fui para Itajaí e conversei com a Márcia, gerente da Fio Nobre, no Centro Público de da Economia Solidária de Itajaí (CEPESI), um espaço bem legal em que, além de uma loja com vários produtos de organizações ligadas à Economia Solidária, há também uma lanchonete, um restaurante vegetariano, e algumas outras atividades, como Reiki, yoga...

Como cheguei um pouco tarde, já não dava mais tempo de ir conhecer a cooperativa, então fiquei de voltar no dia seguinte. Com isso, voltei a Balneário Camboriú ( que não é a mesma cidade que Camboriú) e dormi na casa da Fátima. Claro que fui super bem recebido, Obrigadão!

No dia seguinte, mais uma vez segui para Itajaí e aí sim conheci a Fio Nobre, experiência bem interessante, e de quebra ainda filei um almoção na casa da Márcia, por acaso no dia do aniversário do marido dela. Para voltar a Floripa, apelei para uma caroninha, já que já tinha pedalado esse trecho na vinda e queria tocar logo pra frente.

Chegando na deliciosa casinha da Lagoa, recebi uma notícia chata, de que na noite anterior tinham entrado na casa por uma janela e roubado um notebook e uma mochila do Lucas, o argentino que está morando por lá, e também tinham levado meus alforges traseiros, que eu tinha deixado lá enquanto ia a Bombinhas, Camboriú e Itajaí. Maas, o vizinho havia encontrado os alforges no quintal pela manhã, e eles agora estavam na polícia. Fui à delegacia buscar, já repassando na minha mente tudo que estava dentro dos alforges e pensando o que provavelmente teria sido levado (um casacão que faria muuuita falta no frio, meu tênis...) mas, para minha surpresa, quando cheguei lá estavam os alforges cheios, e quando conferi em casa estava TUDO lá!!! Inclusive meu passaporte!!!

Mais uma vez tive uma prova de que todas as forças do bem estão conspirando para que tudo dê certo nessa viagem... fiquei muito impressionado com essa história e fui conversar com o vizinho que encontrou as coisas. Era um alemão brasileiro muito boa praça que vive com uma brasileira, e fiquei por lá batendo um papo com direito a chazinho e lanchinho.

À noite fomos a um sambinha no Varandas, nós da casa (já com um novo morador), os vizinhos da casa de baixo e os vizinhos da casa de cima. Foi ótimo, depois de um mês e meio fora do Rio, ouvir um sambinha ao vivo, e samba bom....

No dia seguinte, rearrumação total para recolocar tudo no lugar e pedal na estrada.... pretendia ir até o sul da ilha (caieiras da barra do sul) e atravessar para o continente de barco (para a praia do Sonho), mas liguei para o barqueiro e até a hora que saí de casa não tinha ninguém por lá para atravessar, e sozinho ia sair caro demais. Assim sendo, segui pela ponte mesmo, e no continente fui descendo até a praia do Sonho (não é o Sono!), linda, e de lá pela Pinheira, mais linda ainda, de um mar quase parado e transparente, até chegar à Guarda do Embaú, o ápice do dia. Praia lindíssima, com uma vilazinha beeem turística, um rio (Madre) desaguando na praia, que se atravessa de barquinho pra chegar à praia, e uma praia bem preservada, com vegetação de restinga e de dunas na parte de trás.

Praia do Sonho, com Floripa ao fundo

Na Guarda perguntei para dois caras se dava pra seguir pela praia até o final e ir até Garopaba, que era meu objetivo pro dia. Os dois falaram que era tranqüilo, ia pela praia até a Gamboa e depois ia subir um morro e descer em garopaba. Com duas indicações positivas, não tive dúvidas. Botei a Caiçara em cima de um dos barquinhos (ela já é quase marinheira, de tanto barco que já pegou, e atravessei para a praia. Segui pedalando pela areia, sob os olhares atônitos dos turistas que ainda resistiam após o fim da temporada, e mais à frente parei para um mergulho. A surpresa veio quando cheguei ao final da praia. Antes de chegar à gamboa, teria que atravessar um trecho de dunas ou seguir por um costão de pedras. Bicicletas não gostam de duas. Elas são cheias de areia e afundam. E costões também não são o forte da caiçara.

Apreciando o entardecer da Guarda do Embaú

Dei uma andada pelas duas procurando um caminho mais tranqüilo pra passar, mas não tinha alternativa... como a tarde já ia caindo, resolvi acampar ali antes das dunas mesmo e encarar as dunas no dia seguinte. Voltei um pouco na praia, encontrei um lugar abrigado embaixo de uns pinheiros, entoquei a bike e fui à gamboa comprar umas comidinhas e ligar avisando que não chegaria a garopaba. Acampar ali foi uma delícia. Eram meus últimos dias no litoral, e dormir com o barulho do mar, fazendo uma fogueirinha ali no meio das dunas, restinga, estrelas, não tem preço.

Guarda do Embaú amanhecendo...

No dia seguinte de manhã parti para a missão das dunas. Depois de algum esforço consegui subir por uma trilhazinha entre o costão e as duas, passando no meio de um mato rasteiro meio fechado, mas tudo bem... mas pra descer, só tinha duas opções: um descidão de areia solta, que afundava o pé até o meio da canela (imagina a bike), ou um paredão de pedra vertical. Com pena da caiçara na areia, escolhi o paredão, e fui descendo ela no muque mesmo. Penoso, mas deu tudo certo, sem incidentes. Subi o tal do morro e desci em garopaba, onde acabei nem parando.

O paredão que eu e Caiçara descemos...

Garopaba

Fui seguindo por umas estradinhas internas até cair de volta na velha conhecida BR-101, por onde segui até Imbituba. De lá, fui para a praia e segui pela areia até Laguna. Lugar alucinante. O dia estava lindo, céuzão completamente limpo e azulão, uma praia enorme com faixa de areia largona e muito boa de pedalar e vento a favor... delícia.

Nessa praia conheci um cara catando os galhos e raízes de árvores que vêm parar na areia para fazer artesanatos. Sujeito muito gente boa, que me explicou um pouco da história do lugar. Por exemplo: Laguna fica na divisa do tratado de Tordesilhas, dali pra frente era terra espanhola...

De Laguna, peguei uma balsa para atravessar o rio e segui pedalando por uma estrada de terra que na verdade era um areião esburacado até o Farol de Santa Marta. A idéia era chegar lá para o por do sol, mas ele se pôs comigo ainda na estrada, num espetáculo de laranja e vermelho, um dos mais lindos que já vi na vida. A estrada era bem mais comprida e ruim de pedalar do que eu esperava, e acabei chegando no farol só lá prumas 8-9hs da noite. Fui para um camping logo na entrada da vila, para um merecido banho e jantar. De cara já conheci Saulo e Tiago, dois surfistas, fotógrafos e videomakers fascinados pelo farol.

Pretendia seguir viagem já no dia seguinte, mas os dois me convenceram a ficar pelo menos um dia no farol, pra conhecer o lugar e ver aquele pôr do sol agora do farol. De noite ainda fui conhecer o farol, iluminado por uma lua cheia enorme (véspera da tal maior lua dos últimos 20 anos), e vi que valia a pena ficar mais um dia.



No dia seguinte, infelizmente o tempo amanheceu nublado, com uma névoa espalhada pelo lugar. Mas mesmo assim, não deixava de ser um lugar impressionante. Conheci a praia do Cardoso em frente ao camping, onde segundo Tiago e Saulo foi surfada a maior onda do Brasil, com uns 5,5 metros. O lugar é um super point do surf, porque a praia é virada para o sul e dali pra baixo o litoral é todo reto e mais recuado um pouco, então as ondas que vêm do sul batem direto ali.

O próprio farol também é bem bonito. Foi contruído no século XIX, com óleo de baleia e tudo... e é o farol mais forte da América do Sul. Com o tempo fechado, acabou nem tendo pôr-do-sol. À noite, sinuquinha e um bom papo...

Na manhã seguinte, o céu amanheceu limpíssimo de novo, azulzinho. Com certeza o pôr-do-sol seria sensacional, mas tinha que seguir viagem. Na saída, ganhei de presente do Saulo umas fotos na estrada, o que é um presentão já que viajando sozinho quase não tenho fotos de mim mesmo...





O nascer do Sol no Farol de Santa Marta

Últimas pedaladas litorâneas

O resto do dia foi de pedaladas sem muito destaque, e fui até guatá, que é um distrito de Lauro Müller, já no pé da Serra do Rio do Rastro.

Mas a Serra é um caso à parte, e logo mais falo sobre ela...

Agora estou em Chapecó, no oeste catarinense, na casa do Rodrigo, jogador do Chapecoense e filho do Mauro, na casa de quem fiquei lá em Paranaguá. Nesses últimos dias peguei duas caronas e um ônibus para apressar a viagem e chegar na fronteira da Argentina a tempo de participar de um encontro que está acontecendo por ali.

domingo, 13 de março de 2011

Enfim, Floripa!!!

Boa noite pessoal,

Em Joinville, depois de uma ótima noite de sono em uma suíte presidencial, pela manhã conheci o empreendimento da Sirlanda e Eliane, Recriando em Fibras, que produz artesanatos em papel reciclado e fibras de bananeira, além de diversas outras fibras naturais e materiais reciclados. Elas recolhem aparas de papel em gráficas, transformam as aparas em folhas de papel novamente e adicionam as fibras de banananeira, depois de um processo trabalhoso de cortar o caule da bananeira em pedacinhos, cozinhar, bater no liquidificador...

Para colorir o papel, elas utilizam só corantes naturais, e aí a criatividade toma conta: açafrão, urucum, cebola... elas vão fazendo uma alquimia e criando tons novos na base da tentativa e erro. Com as fibras elas também inventam bastante, usam fibras de coqueiro que cai no quintal, restos de material têxtil. E com essas coisas todas vão criando lindos cadernos, blocos, abajures. O trabalho é bem bonito e pelo que percebi vem rendendo bons frutos.

Depois de um bom papo com as duas fui com o Dalfovo conhecer o Consulado da Mulher, onde ele trabalha, uma organização ligada à Cônsul que promove ações de geração de renda com grupos de mulheres, tendo como base a economia solidária. O trabalho é muito interessante, e bastante abrangente. Apóiam projetos no Brasil inteiro utilizando a educação popular e fornecendo material e metodologias para os grupos apoiados.

Conheci também o Espaço Solidário, um espaço dentro da fábrica da Cônsul/Whirlpool onde são comercializados alimentos fabricados por um grupo de mulheres que também é responsável por vendê-los e gerenciar o espaço, dividir os recursos obtidos, trabalho bem bonito.

Para completar, à tarde fui conhecer o grupo da oficina de teatro da ADEJ, um trabalho desenvolvido com deficientes físicos e mentais no qual a arte é trabalhada como forma de interação social, desenvolvimento das potencialidades pessoais de cada um dos envolvidos e também, em um futuro próximo, geração de renda. O grupo já fez algumas apresentações em Joinville e estão ensaiando para mais um espetáculo. Esse trabalho me emocionou pelo carinho que recebi das pessoas e pela animação do pessoal.

À noite, rolou um jantar delicioso na casa da Sirlanda, uma macarronada à putanesca (ou moçanesca, né mãe?) com o pessoal de Joinville, com direito ao tradicional Apfelstrudel e, no final, uma super surpresa: Eliane entrou com um bolo e uma velinha (0 anos!) acesa. Por um momento nem acreditei. Olhei em volta para as crianças, filhos do Dalfovo pra ver se era algum deles que estava fazendo aniversário e, depois de uns 5 segundos, caiu a ficha. Tinha comentado que meu aniversário tinha sido uns dias antes e minhas anfitriãs preparam uma festinha de aniversário para mim! Fiquei com os olhos cheios d’água, sem acreditar... foi um momento lindo, muuuuito obrigado, pessoal!!

Bolinho de aniversário

No dia seguinte tomei um café reforçado e segui viagem. Quando estava saindo de Joinville, percebi que não tinha conhecido a parte turística da cidade, que era super bonitinha, e resolvi mudar um pouquinho meus planos. Fui atrás do museu da bicicleta (é claro, né!), mas estava fechado. Conheci a antiga estação de trem, o museu do imigrante, que mostra um pouco da vida da região na época em que foi colonizada, e o museu do sambaqui. Depois tirei uma foto no portal da cidade e fui até um posto de gasolina para dar minha primeira trapaceada da viagem. Peguei uma carona de caminhão até Floripa para chegar na cidade para o carnaval (como bom carioca, não podia deixar o carnaval passar em branco no meio da estrada, né...).

Em Floripa, atravessei a ponte junto com os carros pra no final descobrir que tinha uma passarela para pedestres e bicicletas, atravessei o penoso morro da Lagoa e fui para a casa da Glau, minha ex-companheira de casa lá em nikiti city. Ela estava no Rio, mas o Chico e o pessoal que estava por lá me receberam super bem. A casinha era linda, no meio do mato, com um paredão de vidro, lareirinha no meio da sala, um charme. Lá, além do Chico, estavam morando dois caras das ilhas Canárias, que me ensinaram muito sobre um lugar que não conhecia nada, Ricardo (Canário) e Lucas, e dois amigos deles estavam passando uns dias por lá, um uruguaio e outro argentino. Juntando com o Chico, mato-grossense, e eu, carioca, a casa era bem variada. Vários sotaques e idiomas se misturando.

Floripa era o meu primeiro grande objetivo da viagem, então foi muito legal chegar aqui. Quando se está viajando de bike, você vai criando uns objetivos, que no meu caso são de três "níveis": um pro dia, aonde pretendo chegar e dormir; o segundo, regional, algum lugar legal onde eu conheça alguém ou queira visitar algo que já tenha em mente; e o terceiro, mais distantes, são os lugares onde a viagem muda de rumo, como Floripa, de onde vou entrar para o interior (na verdade vai ser de Laguna), ou San Pedro de Atacama, onde viro para o norte rumo à Bolívia. Depois de Floripa, meu grande objetivo passa a ser a fronteira com a Argentina, el Soberbio, onde a viagem não muda de rumo, mas de idioma, e onde vou encontrar algumas pessoinhas iluminadas que me fazem um bem imenso.

Preparando o almoço na casinha da Glau

O carnaval em Floripa era bem mais tímido do que eu estou acostumado (ok, não podia esperar encontrar o carnaval carioca ou o de Olinda do ano passado, né...), mas deu pra aproveitar um pouquinho, com direito a maracatu, samba de roda, marchinha... conheci tambvém várias praias lindas (Joaquina, Mole, Galhetas, Matadeiros, Pantâno do Sul, Solidão, Campeche...) e um pessoal muito gente boa. Além do pessoal da casa e de várias argentinas (em Floripa tem mais argentino que gente), conheci a Lolita, amiga do Flavinho, meu ex-chefe (hehehe), que depois de um almoção vegan, me levou pra conhecer a praia de matadeiros e Érika, Markito e Sofia. Esses três conheci através da própria Érika, que respondeu o email que mandei pra meio mundo de gente falando sobre o projeto e pedindo ajudas e indicação de organizações. Marcos mora em uma casa muito legal, construída com material de demolição e em esquema de mutirão, com o banheiro seco mais bonito que já conheci, vários mosaicos feitos por ele mesmo... fiquei encantado com a casa! No dia que conheci eles, Markito e Sofia estavam chegando de uma viagem á guarda do Embaú de bike.

Acabei dormindo por lá e no dia seguinte fui com ele conhecer a Revolução dos Baldinhos, na comunidade Chico Mendes, que fica em Floripa, mas no continente. Essa revolução começou quando a comunidade resolveu tomar uma atitude para acabar com uma infestação de ratos. Além de desratizar, viram que precisavam tirar o alimento dos bichos para evitar que voltassem. Começaram então a separar o lixo orgânico do restante e recolhê-lo para uma composteira, para fazer o lixo virar adubo. Hoje o pessoal recolhe toneladas de restos de comida que iriam para o lixo e, no terreno de uma escola da região, colocam para compostar e o adubo é redistribuído para que o pessoal da própria comunidade utilize para plantar em casa. Para recolher o lixo, existem 20 Postos de Entrega Voluntária (PEV) espalhados, em escolas e casas de moradores, para onde o pessoal leva o lixo e de lá, duas vezes por semana, ele é recolhido para a composteira.

A Revolução dos Baldinhos!A Caiçara pegando uma carona pra conhecer a comunidade Chico Mendes

Acompanhei uma ronda recolhendo o lixo e vi que o trabalho ali é exemplar, e precisa ser replicado pelo país afora. Fiquei pensando o tempo todo nas inúmeras comunidades no rio que têm problemas graves com o lixo e que poderiam estar fazendo um trabalho semelhante. Na ronda conheci também a horta da Margarida, uma moradora que resolveu plantar num canteiro na beira da BR, e hoje colhe diversos alimentos de um pedaço de terra que de outra forma estaria completamente inutilizado.

Um abração para o pessoal do projeto! Adorei conhecer!

De lá fui conhecer a sede do Cepagro, onde o Marcos trabalha.

Lagoa do Peri, com uma névoa fantasmagórica

Pretendia sair de floripa na sexta-feira, dia 11, mas o clima não permitiu. Saí no sábado, rumo a Bombinhas, para fazer o trecho que pulei com a carona antes do carnaval. Foi um dia intenso!

Em Biguaçu conheci o museu Etnográfico na casa dos Açores, casa bem bonita e, alguns quilômetros depois, pssssssss trumblublumblum... pneu furado! Peguei as ferramentas, virei a bike de cabeça pra baixo em pleno acostamento da 101 e achei logo a razão do furo: uma aparazinah de metal fincada no pneu. Enquanto remendava a câmara, passa um sujeito com uma bike carregadona e várias bandeirinhas penduradas atrás, sendo a maior a do Chile. Gritei e ele parou para um papo. Luís é um chileno que saiu de seu país há três meses, passou pela argentina, Uruguai, entrou no Brasil pelo Chuí, está subindo pelo litoral e pretende pegar um navio de Paranaguá para a África, subir para a Europa, depois Oriente Médio, Ásia, da China para o Canadá, e de lá descer de volta para o Chile. 2 anos e meio de estrada! Quem quiser conhecer, aí vai o blog do cara: www.madretierradelvalle.blogspot.com.

Até o momento, o recorde da BR-101 de local mais perto do mar

E o recorde de placa-peneira. contei 31 furos, emais uns 8 amassados...

Ele seguiu viagem e eu fiquei terminando o serviço. Depois de resolvido o problema do pneu, pedalei mais uns quilômetros e encontrei com ele de novo, parado no acostamento com um grupo de chilenos e brasileiros que tinha parado para saber a história dele e tirar umas fotos. Dali fomos pedalando juntos até Tijucas, onde nossos caminhos se separavam. Ele seguia pela BR-101 e eu entrava á direita em direção a Porto Belo e Bombinhas. Depois de passar por vários lugares que seriam lindos se não fosse o tempo fechadão e o chuvisco constante, cheguei a Porto Belo, e aí a garoa que me acompanhava desde de manhã virou um pé d’água pesado. Fiquei um tempo debaixo de uma marquise esperando mas vi que não ia passar nunca. Quando deu uma diminuída, segui em frente. Mas logo depois voltou a ser um toró forte, e cheguei a Bombinhas ensopado. Depois de uma subida de morro passando por verdadeiras cachoeiras de água de chuva que descia da encosta e uma descida emocionante em que tive que descer da bike e ir empurrando porque debaixo do aguaceiro os freios não eram muito confiáveis, cheguei à casa do Aguimar. Mais um pouso pelo Couch Surfing, e mais uma vez, muito bem recebido! Quando cheguei tinha uma suíte toda arrumadinha me esperando, e depois de um banho quente, jantarzão com direito a comidinha local: uma lingüiça de frango com queijo, típica alemã.

A casa do cara é super legal, toda construída por ele mesmo, das paredes aos móveis. Os móveis e a iluminação da casa são daquelas coisas de revista de decoração, mas tudo feito com madeiras velhas reutilizadas, bambu, e reciclando materiais. A espriguiçadeira é uma cama velha reformada, o botijão fica escondido atrás de uma prateleira bonitona no canto da sala, a água é aquecida por um aquecedor solar feito com garrafa PET, cano de PVC e caixas de isopor. Tirei várias idéias para o futuro...

Aliás, nessa viagem tenho conhecido muitas casas legais, e estou aprendendo muito para construir minha casa no futuro. É impressionante o que cada um vai criando para fazer seus lares de um jeito próprio.

Hoje conheci bobinhas, debaixo de chuvinha constante, e acabei adiando minha ida para balneário Camboriú por conta do mau-humor de São Pedro.

Cá estou, aprendendo a cada dia, conhecendo pessoas interessantíssimas e vivendo cada dia de uma vez. Ô oportunidade maravilhosa, essa viagem!

Um beijão pra tooodo mundo!

Rumo ao Rainbow!!!

quinta-feira, 3 de março de 2011

Aldeia da Paz e Parabéns pra mim!

Continuando de onde parei... cheguei em Paranaguá pela manhã, fiquei na casa do Mauro e aproveitei a tarde pra dar uma geral na Caiçara. A coitada tinha areia em todos os lugares possíveis e impossíveis, e a relação estava coberta de ferrugem. Me apossei de uma mesa de concreto no quintal do prédio, arranjei uma mangueira e um pano velho e parti para a luta. Em Paranaguá não encontrei nenhuma loja boa de bike, que tivesse uma ferramenta (chave de cassete) que eu precisava pra trocar um raio que estava quebrado desde a estrada do despraiado, antes da ilha comprida, então aproveitei que o mauro estava subindo pra Curitiba e tbm fui no sábado cedinho, para terminar de dar a geral de aniversário de 1000km. Em Curitiba troquei o raio quebrado e mais alguns que estavam merecendo, o pneu da frente que já tinha saído do Rio bem gasto, e agora estava pedindo arrego, e ainda comprei uma fita de guidão para colocar por cima da espuma, que está com rasgos monstros nas laterais.

Em Curitiba me hospedei na casa do Narciso, outra boa alma da SBEE, e à tarde fomos ao jardim botânico, visitamos o Eliel, almocei um filet mignon com molho de mostarda delicioso, pegamos um toró daqueles que dei graças a deus de não estar de bike no dia, e à noite de quebra fomos ao churrasco de inauguração da casa nova de mais um amigo, Rodrigo Dias. Ele comprou um terreno e construiu a casa, e ficou bem legal.

Enfim, meu dia de Curitiba foi bem legal, e fui super bem recebido pela família do Narciso. No dia seguinte saí de manhã (depois de uma demorazinha por conta de um pneu murcho) e, depois de passar por uma feira e reabastecer meus estoques de frutas, castanhas e etc., fui em direção à estrada da Graciosa, uma estradinha que desce a Serra do Mar de Curitiba a Morretes, desde a época do império ( foi a segunda estrada a ser construída cortando a serra do mar, só perde para a de Petrópolis) e passa por uma região bem bonita, só de fazendas e mato, com muitas flores, pássaros...

No começo são uns 30 a 40 quilômetros de plano com algumas subidinhas, depois vem um descidão de 17km que é o ponto alto do trajeto. Nessa parte há um trecho em que a estrada é de paralelepípedo, cercada pela onipresente mata atlântica e muitas flores, riozinhos, algumas cachoeirinhas... é muito legal notar ao longo da descida a mudança na vegetação. Na parte alta, a estrada é cercada pelas tradicionais araucárias do Paraná, que aos poucos vão cedendo espaço para a exuberância da mata atlântica. No final da descida a mata já é bem alta e fechada.

Quando cheguei em Morretes, no final da estrada da Graciosa (final pra mim, porque ela continua até Antonina, na beira da baía de Paranaguá), dei uma volta pela cidade, vi o riozão cheio de gente curtindo um bóia-cross, esporte local, a estação do trem que vai até Curitiba, outro passeio lindo, e quase parei pra comer um barreado, o prato da região, que pelo que entendi é um ensopadão com várias carnes diferentes.

De lá fui seguindo até a BR 277, que vai de Curitiba pra Paranguá, e assim que cheguei na BR, fui pedalando junto com um outro ciclista e começamos a conversar. Samuel é um triatleta que está treinando para o IRONMAN (180km de bike, 42km de corrida e 4km de natação!!!) e que já completou o IRONMAN em 2008, em 13h50min. Fiquei impressionado! Fomos pedalando juntos até Paranaguá (eu suando pra acompanhar o ritmo dele, mesmo com pouco peso e ele com uma caloi ao invés da bike de triathlon) e paramos na casa dele pra tomar uns 2 litros de um suco de maracujá delicioso (o Paraná tem o maracujá mais gostoso que já provei) e tirarmos umas fotos do encontro do triatleta e do viajante, dois tipos diferentes de ciclistas.

No dia seguinte pela manhã peguei um barco para a famosa Ilha do Mel. Pra variar, acordei tarde, e naquele meu estado meio grog no qual acordo acabei não conseguindo fazer algumas coisas que queria (ir ao mercado, dar uma voltinha pelo centro histórico...) e ainda cheguei no cais no último segundo, com os caras já desamarrando o barco....

Chegando na ilha, encontrei um campingzinho barato, deixei a bike e fui conhecer a fortaleza e a praia da fortaleza. Bem bonito o lugar, e a fortaleza está super bem conservada, gostei mas penei no caminho com um solzão de rachar (meio-dia) numa caminhadinha de uns 4km sem sombra nenhuma. Depois que o sol baixou um pouco, fui para o farol, em uma outra ponta da ilha, para ver o pôr-do-sol. Chegando lá, o céu nublou e não teve pôr-do-sol nenhum.... paciência, de volta pro camping, jantarzão e cama.

No segundo dia na ilha, pretendia ir pra Encantadas, na outra ponta da ilha, logo de manhã, mas acordei preguiçoso, tomei café calmamente com o pessoal do camping, fui para a praizinha mais perto, a do farol, e fiquei por lá batendo um papo com um casal de sul-africanos. Quando a preguiça passou, fui encarar a caminhada. Valeu a pena! Passando pelas praias semi-desertas Grande e do Miguel, cheguei à própria praia de encantadas e à Gruta de mesmo nome. A gruta é bem legal, geólogos devem adorar, pq dá pra ver claramente como ela foi formada, pela erosão do mar em um veio no paredão rochoso que provavelmente é de um material mais frágil que o do entorno.

Na volta, debaixo de uma garoinha, passei no camping, peguei a caiçara e parti para o trapiche (cais) pra pegar o próximo barco para Pontal do Paraná. Não via a hora de chegar ao meu próximo destino, a Aldeia da Paz. Desci em pontal e fui pedalando pela avenida principal, sem saber ao certo onde era a aldeia, e procurando algum lugar com barracas, tendas, etc... depois de alguns quarteirões, vi umas barracas num terreno à minha direita. Ainda estava procurando alguma faixa ou outro indício de que fosse mesmo a Aldeia da Paz, quando alguém gritou lá de dentro: - Chegou, irmão! Pode entrar que você tá em casa! =)

Fui entrando, observando, as figuras que estavam no lugar e fui em direção a um toldo onde o pessoal estava fazendo um som. Já de cara conheci um casal de colombianos que está há 19 meses pedalando pela América do Sul, e pasmem: com seu casal de filhos, sendo que o mais novo nasceu na viagem! Vi que estava mesmo em casa. Aos poucos fui conversando com o pessoal que vinha ver quem tinha chegado com aquela bike carregada e vi que ali só tinha gente muito boa e cada um tinha uma história diferente pra contar. Cada um de um canto, chegando ali de um jeito... várias pessoas que viajam de bike, outros de carona, outros de carro...

Não tenho como descrever como foram meus dias ali, mas logo no segundo dia já tinha certeza de que ia ficar até o final, enão só dois ou três dias como tinha planejado. As pessoas ali eram muito interessantes, os papos rendiam muito, e aprendi muito com todos que viveram comigo nessa aldeia. Foi uma experiência muito especial morar por cinco dias em comunidade com essas pessoas maravilhosas. Ali a alimentação era a mais natural possível, com vários alimentos vivos, grãos germinados... banheiro seco, cozinha coletiva, trabalho coletivo... vivendo várias coisas que acredito e sobre as quais tenho matutado nessas estradas.

Colombianitos

Algumas figuras, sem desmerecer os demais, merecem uma menção especial. Thomas Brokaw e Leal Carvalho garantiam o alto astral com música de altíssima qualidade o tempo todo. Thomas ficou como um exemplo para mim, com sua calma e por viver absolutamente seus princípios...

Xaxá (é assim que se escreve) era uma figura a parte, puro alto astral... ainda vou visitá-la na Mantiqueira pra cavalgar pela serra....

Felipe e Vanda se desdobravam para resolver todo tipo de pendências e levar adiante a aldeia, Mandala compartilhava seus conhecimentos e liderava as espetaculares construções em bambu, com Lua, Fabio, os colombianos e o pessoal de Floripa aprendi vários bizus sobre viagens de bike, Renata era pura harmonia, Esmeralda me apresentou o Contato-improvisação (Alô Aline tudoi!), Ângelo os grãos germinados e a cozinha crua.....

Enfim, um graaaaaande abraço a todos que conviveram conosco nesses dias, e tenho certeza que nos ainda encontraremos muitas vezes por essa vida....

últimos da família a largar o osso...

Na segunda-feira, saí da Aldeia no início da tarde, depois de uma noite chuvosa e uma manhã preguiçosa e de arrumação da casa antes da partida... fui pedalando pela orla em direção a Matinhos, almocei num PF de 3 reais(!!!) (na verdade nem estava com fome, mas não podia perder essa oportunidade...), encontrei um companheiro da Aldeia, Soley, com seu jipão Niva Lobo Branco (lembrei da super máquina do magrão) na rua em Matinhos e de quebra ganhei um suco e pão de queijo batendo um bom papo na padaria dele, e peguei a estrada Alexandra-Matinhos em direção ao sítio onde mora um pessoal que estava na aldeia, a Tribo do Sol Nascente. No caminho, encontrei uma gatinha (aquele animal peludo, não uma mulher) na estrada, toda encolhida de medo e miando sem parar. Depois de algum tempo tentando viabilizar um jeito de carregá-la na bike sem ela pular pra fora, enquanto era devorado pelos mosquitos insaciáveis, acabei tendo que partir para a ignorância e coloquei ela dentro de uma camisa, com as mangas amarradas e a gola e a barra presas com elástico, dentro do capacete,
pendurado no guidão. Segui viagem por quase dez quilômetro com pena da pobrezinha e fazendo um carinho pra acalmar a coitada... quando cheguei ao sítio, o pessoal, que nem sabia que eu ia para lá, me recebeu super bem e adotaram a gata, que foi logo batizada de Lua Nascente (ela é toda preta e com um mancha branca na forma da lua nascente no peito).

O sítio é uma delícia, no meio do mato, sem barulho nenhum, só o som da floresta, sem luz elétrica, só com uma casinha estilosa para o povo dormir, e o pessoal tem vários cultivos em agrofloresta... Muito bom papo, chimarrão, banana colhida na hora...

Sol Nascente e Lua Crescente

No dia seguinte, já na trilhazinha que vai da casa no sítio até a estrada, parei pra tirar uma foto e quando vi a data, tomei um susto: 1º de março! Meu aniversário! Completando vinte e quatro anos de estrada na estrada. Não estava nem lembrando que já estava tão perto... Parabéns pra mim!

Fui pedalando pensando nesses 24 anos de vida e sobre tudo o que já vivi e as magníficas oportunidades que tive na vida, como a dessa viagem... fui até Caiobá, peguei a balsa para Guaratuba, atravessando a baía de Guaratuba e, a caminho de Itapoá, cruzei a divisa com Santa Catarina, sem placas para foto... Chegando em Itapoá, parei em um supermercado e comprei um chip da TIM (47 9902-3115), já que o meu chip da oi deu alguma ziquizira, e descobri que até a balsa que atravessa a Baía da Babitonga (adorei esse nome!) ainda faltavam 40 km, e boa parte de lama, e não uns 10km de asfalto como eu pensava... saí dali pensando que não ia dar pra chegar em Joinville, meu objetivo para o dia, e que ia ter que arranjar um lugar pra ficar...

Enquanto pensava isso, passa um carro por mim, dá uma buzinadinha, pára uns metros mais à frente, e um sujeito bota o cabeção pra fora e grita: - de onde vem esse maluco nessa bicicleta carregada???

Daniel estava na casa de um amigo em Itapema do Norte, uns 10km mais à frente, e me ofereceu um pouso e um banho, segundo ele pra retribuir os pousos que já ganhou em suas próprias viagens de bike...

Chegando lá conheci o Tonho, um amigo do Daniel e vizinho da casa aonde ele estava ficando. Os dois eram muito gente boa, cheios de histórias de viagens...

À noite o Daniel fez um peixe assado na brasa, com arroz, macarrão e uma saladinha. Jantarzão delicioso, com peixe fresquinho, direto da baía da Babitonga (ou do mar aberto, não faço idéia...) trazido pelo próprio pescador, Luciano...

Não poderia ter presente melhor de aniversário: um banho, um pouso, dois amigos e um jantar maravilhoso. E de manhã o Tonho ainda me arrumou uma carona até São Francisco do Sul, do outro lado da Baía, com Beto, um pescador que estava se preparando para sair para o mar aberto para lançar sua rede.

Em São Chico, como o pessoal chama por aqui, visitei o centrinho histórico, todo bonitinho, e fui para o museu do mar, enorme e espetacular, com o maior acervo de barcos do Brasil. O museu apresenta bem as embarcações tradicionais de pesca ao longo de todo o litoral brasileiro, com salas enormes para os principais estados nessa arte de fabricar barcos, além de falar da cultura, festas tradicionais e até da culiária de cada região. Só fiquei um pouco decepcionado porque o barco que o Amyr Klink usou em sua travessia do atlântico sul a remo, que fica exposto lá, não estava... está sendo restaurado....

Saí do museu esfomeado e decidi almoçar num restaurante arrumadinho como continuação das comemorações de aniversário, mas depois de olhar uns dois cardápios com precinhos espetaculosos (botei a culpa nos cruzeiros que atracam ali), me contentei com um Buffet livre de 15 reais pra encher a burra. Para fazer a digestão fui conhecer o museu histórico da cidade.

De lá, mais uma pedaladinha de duas horas até Joinville, onde liguei para o Paulo, meu contato na cidade, através do Fórum Estadual de Enconomia Solidária, e combinei de encontrá-lo no mercado municipal, onde fui parar seguindo as placas de centro. Enquanto esperava, papeando com dois caras que vieram perguntar sobre a bike e a viagem, ganhei 20 reais de ajuda para a viagem! Obrigado!!

Neste momento estou confortavelmente instalado na casa de uma amiga do Paulo, Sirlanda, tamvém da Economia Solidária e amanhã vou visitar algumas cooperativas e associações para o projeto....

Um grande beijo a todos e parabéns pra mim! 24 anos e pedalando...