domingo, 20 de fevereiro de 2011

Das Cananéias pra frente...

Bom dia gente,

Demorei mas cá estou para lhes contar mais um poquinho desse caminho maravilhoso...

Minha estada em Cananéia acabou se estendendo de meia hora para uma semana... Depois que encontrei a Santa Silmara, que me deu a oportunidade de conhecer essa cidadezinha tão peculiar, voltei com Jordy, Inara (nossa professora de ioga), banana e Ju para o quiosque na Ilha Comprida e fiquei lá por mais dois dias. Vi botos nadando a menos de 5 metros de mim, paisagens estonteantes, um dos céus mais bonitos que já conheci e até aprendi um pouquinho a surfar (ainda não consigo pegar onda alguma, mas já estou me ajeitando com a prancha...).

Aprendendo a fazer temaki com mestre Banana

Voltei para Cananéia ( uma estradinha de 4km e uma balsa de 10min, na quinta à tarde, para ajudar a organizar a feira de Economia Solidária que começava na sexta. Em Cananéia me acomodei na casa da Silmara, Fabico, Nat e Marina, um pessoalzinho muito gente boa que me acolheu super bem, com direito a um sofá cama enorme e tapioca no café da manhã.

Na própria quinta à noite, fomos jantar na casa da Gi, que estava fazendo um jantar temático, com peixe ao tucupi, arroz com castanha do Pará, pavê de cupuaçu, vários quitutes amazônicos. Ela e o Kléber, mais um amigo do povo, estavam voltando de uma viagem a Manaus, Santarém e Belém e fizeram um jantar do norte com as comidas que trouxeram de lá. Adorei a idéia, e vou instituir isso no Rio assim que voltar!

Na sexta fomos para a praça e passamos a manhã montando as barracas para a feira (decifrando como montar....) e decidindo aonde colocar cada barraca, quem ficava aonde, como colocar luz, tomadas, e todo tipo de pendências que uma feira de rua demanda... à tarde a feira ficou pronta e começou a funcionar de fato. No final do dia, rolou um fandango na feira e deu orgulho de ver como tinha ela ficado bonita, com vários artesanatos, comidinhas e coisas de todo o Vale do Ribeira. O fandango é uma dança típica caiçara (alguém sabe dizer se rola ali pros lados de Paraty? Pq nunca tinha ouvido falar), tocada com viola, rabeca e um instrumento que não conhecia e que esqueci o nome. O fandango foi ótimo, tocado por uns velhinhos boa praça...

No sábado a feira ficou um pouco mais movimentada, mesmo debaixo de um sol de rachar. Depois do almoço rolou mais um fandango, agora com direito a dança devidamente paramentada. Os homens dançam com um tamanco de madeira e as mulheres com saias rodadas e floridas. Reza a lenda que a dança começou nas lavouras de arroz. Depois que o arroz era colhido e seco, os homens sapateavam em cima deles para soltar a casca, e as mulheres abanavam a saia para a casca voar. Já que tinha que fazer o serviço, porque não tocar uma rabeca e dar uma alegrada no trabalho? Adorei essa história.

À tarde fui procurar um barco para a ilha do Cardoso no dia seguinte, mas descobri que só teria barco na terça feira! Mais uns dias em Cananéia....

À noite rolou um forrozinho delicioso. Desde o final do ano que não ia a um forrozinho e aproveitei pra tirar o tempo perdido. Depois do forró a noite foi continuando pela cidade, primeiro na praça da balsa, depois em frente ao ponto de cultura, e acabou na casa de um amigo do pessoal, o Ricardinho...

No domingo, mais um dia de muuuito sol, a feira ficou meio morna, já que a cidade inteira estava na praia... acabei me rendendo e atravessando a balsa pra ir pra praia também, mas só depois que o sol deu uma baixada. Fiquei mais uma vez no quiosque La Luna, do Jordy, à base de camarãozinho frito e sandubão deliciosos, papeando com os cariocas de Cananéia, Wil e Luis (ou luixxxxx, como o pessoal gosta de enfatizar....).

Na segunda o dia amanheceu meio nublado, mas resolvi ir conhecer a cachoeira do Pitú mesmo assim. Como já era dia de trabalho e todo mundo tinha algum afazer, fui sozinho mesmo. Dei uma passada no estúdio dos cariocas (Aldeia Tatoo) e o Luis me ensinou o caminho, atravessando a balsa pro continente (cananéia fica numa ilha) e continuando mais uns 4 km na estrada. Quando cheguei, a balsa tinha acabado de sair, e a próxima, só daí a uma hora. Resolvi então ir pela ponte. A ponte não era tão perto da balsa quanto eu imaginava (claro, né, senão nem precisava de balsa...), mas o caminho era bem bonito. Até a ponte foram mais de 15km por uma estrada cercada de mato o tempo todo. Aqui nessa região ainda tem muita coisa preservada!

Quando cheguei na tal da ponte a chuva começou. Me abriguei na varandinha de uma birosca até dar uma estiada. No caminho para a cachoeira, um momento célebre! 1.000 Km rodados!!! Não sabia se o ciclocomputador chegava a 1.000, então parei quando estava com 999,99 km pra tirar uma foto. Resolvi tirar outra foto com a praga do aparelhinho na mão e, desastrado como eu só, deixei o troço cair no chão. Já pensei logo: só falta essa praga..... não deu outra. Quando peguei o maldito do chão, 00000,00!!!! Me xinguei umas trezentas vezes, mas me consolei por ter tirado a foto dos 999.... (mais tarde descobri que dá pra você colocar o valor que quiser, então já coloquei os mil de volta, mas depois o aparelhinho já zerou algumas vezes por causa de chuva...)

Chegando na cachoeira, mais uma paradinha pra esperar a chuva diminuir, enquanto comia um panetone na marquise de um mercadinho. (quem me conhece sabe que esse foi um momento de glória! Panetone em pleno fevereiro!). Chegando na cachoeira, acabei só dando um mergulhinho rápido, de olho na parte alta do rio e pronto pra correr da cabeça d’água... O lugar é bem bonito, pena que estava chovendo tanto....

Na volta, aguardando a balsa pra voltar, uma cena que mostra um pouco como é diferente a vida em cidades de interior... um motoboy estava indo pra Cananéia levar um documento do INSS pra uma pessoa assinar. Me perguntou como chegar, e indiquei aonde ficava o bairro, que era o mesmo onde estava ficando, Carijo. A rua falei que não conhecia, e que ia ser difícil descobrir, porque já tinha visto que ninguém usava os nomes das ruas em Cananéia. Logo depois chegou mais um pessoal pra esperar a balsa, e o cara perguntou a uma mulher pelo endereço. Ela já respondeu logo: - não precisa nem falar o nome da rua que eu não vou saber. Mas me diz quem é a pessoa que eu te ensino o caminho.

O cara pegou o documento que ia ser assinado e leu o nome da pessoa. A mulher falou: - no Carijo??? Não tem nenhuma Márcia Pereira no Carijo não. Vê o bairro de novo. Aí o cara procurou no documento e achou um outro endereço, dessa vez no bairro Acaraú. A resposta: - aaaahh, agora sim! Marcia Pereira é no Acaraú mesmo. É a esposa do seu Leonel.... aí foi explicando o caminho... Fiquei rindo muito da cena.

Na saída da balsa a chuva virou temporal e corri pro estúdio dos cariocas, que era ali perto. Passei o resto da tarde lá e a chuva não passou.

Na terça, acordei já na missão de arranjar um barco. Na feira, que era a promessa mais forte de arranjar algo, ninguém do Marujá (onde eu queria ir) tinha ido por conta do temporal. Mas depois de alguns encontros e indicações (Obrigado Ju, seu Ezequiel e Beto!), cheguei ao Ari, que estava buscando um carregamento de material de construção para o Ariri, via Marujá. Voltei em casa, arrumei minhas coisas correndo, me despedi do pessoal e, depois de uma semana, me mandei de Cananéia!

Saio de Cananéia apaixonado pela cidade, e me prometendo ainda voltar para morar aqui por um tempo. Esse lugar me impressionou e me encantou. Cidadezinha pacata, de 12 mil habitantes, com ponto de cultura, rede de economia solidária, vários movimentos sociais, comitês, o pessoal se movimenta... e encontrei uma galera muito gente boa, que me acholheu super bem. E de brinde, em vinte minutos você está na ilha comprida. Com mais um tempinho de barco, Ilha do Cardoso. Quer mais o que?

Muuuito Obrigado a toda a galera de Cananéia! Muuuuito prazer em conhecer esse povo, e qualquer dia desses estou de volta.

Com certeza vou esquecer vários nomes, mas um abração pra Silmara, Fabico, Nat, Marina, Fer, Luixxx, Wil, Jordy, Inara, Eduardo, Banana, Ju, Nat de novo, Gi, Kléber, Ricardinho...

Chegando ao Marujá (só chuva o caminho todo), o camping estava alagado, então acabei apelando para uma pousadinha. No dia seguinte o tempo deu uma abrida e voltei ao pedal. Fui até o Pontal do Leste (uns 15km), e um sujeito que encontrei na praia me atravessou para a ilha de superagui numa canoazinha a remo! E sem cobrar nada... Obrigado, Wellington! Ele ainda me indicou procurar o Flávio na vila de Ararapira, onde ele me deixou, para ele me levar até a ponta da ilha quando a maré baixasse, pq da vila não dava pra seguir pedalando (o mar está subindo e já derrubou várias árvores em cima do caminho que ia até a ponta.). falei com o Flávio e, como não rolava nenhum PF, fui fazer uma comidinha na beira do cais. Quando a maré baixou, seu Izidro, pai do Flávio, me atravessou mais uma vez de canoa a remo, depois de um bom papo contando histórias dos desavisados que já pegaram o caminho sem saber que não dava pra passar e ele teve que resgatar. A embarcação era uma canoa de um pau só, de guaparuvu, toda vermelha e branca, chamada bela caña. Chegando lá, perguntei quanto era e ele, pacato, me disse pra dar o que pudesse, que não fosse me atrapalhar. Dei dez reais e ele foi logo perguntando: não vai te fazer falta mais na frente? Certeza? Achei super bonita a atitude dele, e segui viagem de bem com a vida.

Depois de mais um tempo de pedalada, montei minha barraquinha no meio daquela vastidão de praia, gaivotas, gaviões, mata de restinga... e dá-lhe chuva de noite. Mas dessa vez sem vento, e não muito pesada. De manhã continuei o pedal até a vila de superagui, atravessei de barco para a ilha das peças, pedalei até a vila, e mais uma vez apelei para uma pousadinha pra por conta de campings alagados e tbm pq o barco no dia seguinte saía 7:15.

Cheguei na sexta em Paranaguá, e fiquei na casa do Mauro, amigo dos meus pais da SBEE. Ontem de manhã fui pra Curitiba, mas subi de ônibus, e voltei hoje pedalando pela estrada da Graciosa. Mas sobre Curitiba e Paranaguá falo outro dia, senão nunca atualizo isso aqui...

Amanhã estou indo para a ilha do Mel!

Um abração pra todo mundo que anda lendo isso daqui e saibam que estou com saudades do povo do Rio, mas por enquanto não pretendo voltar... =)

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011








Bom dia gente!

É muita coisa pra contar...

Hoje estou na Ilha Comprida, no litoral sul do estado de São Paulo, perto de Cananéia...

E foi assim que eu cheguei aqui:

Há alguns dias saí do Guarujá, depois de passar um dia chuvoso todo dentro de casa, procurando saber sobre o trecho dos dias seguintes, por onde dava pra ir, onde tinha que sair do lit


oral, onde pegar barcos, enfim...

Fui do Guarujá a Peruíbe em um dia, passando por Santos, onde visitei o museu do surf, São

Vicente, de lá passei pela simpática ponte pênsil para Praia Grande, no caminho parei numa Decathlon (no Rio não tem essa loja, e ela é muito legal pra quem gosta dessa vida fora de casa ou de esportes...), depois Mongaguá, Itanhaém, e finalmente cheguei a Peruíbe. Nesse caminho, já fui pegando mais umas dicas com as pessoas sobre o trecho de Peruíbe para Iguape e sobre as ilhas.

Chegando em Peruíbe, parei numa barraquinha de frutas pra repor meus estoques e, papo vai, papo vem, os caras ficaram impressionados com a viagem e eu, que estava comprando só duas carambolas e uma ameixa, acabei ganhando mais uma penca de bananas, um cacho de uvas e ainda comi um pão com mortadela e um copinho de refri... é muito legal receber essas gentilezas gratuitas na estrada.

Saí de lá abastecido de frutas, de barriga cheia, mais feliz com o meu dia e com a promessa de voltar pra lá e dormir na casa dos caras se não conseguisse encontrar a pessoa onde ia ficar hospedado...

Mas encontrei sim, e era uma família sensacional! Tinha conseguido esse pouso através do Couch Surfing, na casa de Afrânio Neto, Taís, Julia e Eva. Julia tem 6 anos, Eva 2, e são lindas. Eva é uma das crianças mais espertas que já conheci, muito malandra...

Fui super bem recebido na casa deles, e nesse primeiro dia fomos jantar na casa dos pais do Neto, um banquete de frango ao curry. Delicioso! No dia seguinte fui de ônibus (pra deixar a bike descansar um pouquinho... =) ) para a Barra do Una (outra?), que é uma vila já dentro da

Reserva Ecológica Juréia-Itatins. A reserva foi criada pra proteger uma região de mata-atlântica que é essencial para a reprodução e preservação de várias espécies de animais e plantas... Boa parte da reserva é fechada até à visitação, então o lugar é preservadíssimo! A Barra do Una é o último lugar que dava pra chegar antes de entrar na área fechada, e é linda. A vila é pequenininha e na praia, o silêncio só é quebrado pelo som do mar. Olhando em volta você só vê mata atlântica, praia, mar e pedras. Da beira do rio Una você vê na outra margem, que já é dentro da área fechada da reserva, a mata alta dominando o cenário... Esse lugar merece uma volta para passar uns dias por aqui.

Na volta pra casa, uma calabresinha frita no pão, deliciosa, e um bom papo antes de dormir... Muito Obrigado pelo pouso e pela amizade, pessoal!

No dia seguinte, peguei um trecho de asfalto e depois entrei na estrada do despraiado, que dá a volta por trás da reserva, indo em direção a Iguape por dentro do continente. A estradinha de terra é linda, e boa parte dela é dentro da própria reserva. Por um bom tempo ela vai margeando um rio grandinho, dando direito a um mergulho cada vez que parava pra descansar e fazer um lanchinho. Em dois pontos ela atravessa esse rio, e nesses pontos se encontram duas relíquias que são verdadeiros monumentos à corrupção e à incompetência de nossos governantes. Nas duas travessias estão os pedaços de pontes que começaram a ser construídas e foram abandonadas no governo sabe de quem? Vou dar uma dica: é paulista, corrupto, começa com

Mal, termina com “uf”... justamente, Maluf, logo ele... As pontes estão lá no meio do rio, sem as cabeceiras, e são enormes, com espaço pra duas carretas passarem juntas, bem altas, e isso tudo no meio de uma estradinha de terra onde em alguns trechos mal passa um carro.... não dá pra entender pra que uma ponte daquele porte. Mas enfim... em 2005 os moradores se juntaram para terminar de construir uma das pontes. Um entrou com a grana pro material, e o resto com a mão de obra, e finalmente a ponte conseguiu chegar às margens do rio. E o melhor é que o governo não queria deixar eles contruírem, porque diziam que precisvam de uma licença... se cansaram de esperar, construíram a ponte e, três meses depois de inaugurada, chega um engravatado com a autorização para construir.... francamente....

Voltando à estrada, na segunda travessia, onde a ponte ainda continua lá pela metade, tive que atravessar pela água mesmo, mas como era rasinho, não tive problemas. Acampei num descampado na beira da estrada e perto de um riozinho simpático. Fiz o jantar no fogareirinho de lata e fui pra cama, fugindo dos mosquitos...

No dia seguinte, mais uns 15km de terra, depois uns 50 de asfalto até Iguape. Almocei um yakissoba com sorvetinho de sobremesa e, depois de morgar um pouco na praça, atravessei a ponte para a Ilha Comprida.

De primeira confesso que fiquei um pouco decepcionado com a ilha. Tinha ouvido falar em um paraíso, uma praia quase deserta e enorme, e cheguei no meio de uma típica cidade de veraneio. Com uma praia linda, mas cheia de casas, movimentada... Mas depois de pedalar uns 10km ao longo da praia, o cenário já ia mudando. As casas começavam a rarear e a praia, interminável, ia desfilando sua beleza...

Não passei por nenhum camping e decidi acampar na praia mesmo. Montei a barraca no fim da tarde, com o tempo fechando, e fiz o um jantar de macarrão com sardinha e molho de tomate com uns temperinhos já com uma garoinha (afinal, estou em são Paulo), começando a cair. Quando estava jantando, a chuva foi começando a engrossar e, quando dei conta de arrumar tudo e por as coisas pra dentro da barraca, caiu o toró. No começo achei ótimo o banho de chuva, mas o vento foi aumentando e virou um temporal assustador. A barraca dobrava toda com o vendaval, e a chuva era tão forte que quando atingia o corpo, as gotas eram agulhadas... depois de algum tempo segurando as paredes da barraca, a chuva diminuiu e eu pude dormir em paz....

No dia seguinte, depois de botar as coisas pra secar e tirar a areia que tinha entrado em absolutamente tudo, fui pedalando para a outra ponta da ilha. O tempo já estava fechando de novo e um vento forte estava soprando a favor, então ia pedalando a 30km/h na areia da praia. Sensação indescritível! Ainda estou impressionado com essa areia que parece asfalto de tão boa pra pedalar... depois de uns trinta e poucos quilômetros, cheguei num rio que não dava pra

atravessar com a bike, a água ia até os meus joelhos. Como já estava perto do lugar aonde queria chegar (a barca para Cananéia), resolvi ficar por ali mesmo e atravessar o rio na manhã seguinte, quando a maré baixasse. Essa decisão foi perfeita. Acampar ali foi maravilhoso, um paraíso inteiro só pra mim. Nesse trecho da ilha já não há casa alguma, e a natureza toma conta (apesar de todo o lixo que vem para a areia trazido pelo mar...). Fiz um jantarzinho delicioso, de risoto de carne de soja ao curry, com cenoura e tomate de salada, e um suquinho de abacaxi. Luxo máximo. Jantei já com uma fogueirinha acesa, e passei o resto da noite pensando na vida, lendo, escrevendo algumas coisas... não precisava de mais nada.

Na manhã seguinte, acordei com um dia lindo. Céuzão azul, o mar lindo, aquela paz... mal acreditava nos meus olhos.

Depois de curtir um pouco o lugar e arrumar as coisas na bike, atravessei o tal do rio tranquilamente, com a maré bem mais baixa, e percorri os últimos 6km até a balsa. Mais uma balsa de grátis! Benza!

Chegando em cananéias, Fui procurar um barco para a ilha do Cardoso. Os próprios caras dos barcos turísticos que fazem o trajeto me falaram que com eles ia sair muito caro para mim, ainda mais estando sozinho, e foram me ajudar a encontrar alguém que morasse na ilha e estivesse indo voltar para lá, para eu conseguir um barco com um precinho mais camarada...

O único cara que estava por lá só ia voltar no fim da tarde, se não ficasse até o dia seguinte, então fui dar uma volta pela cidade, fazer umas comprinhas no mercado, pegar um marmitex pro almoço... e enquanto estava de bobeira na praça, resolvi dar uma olhada na internet. Quando abri meu email, alguém tinha respondido no dia anterior um email que tinha mandado sobre o projeto final com o seguinte texto:

Olá Leonardo,

Você vai passar por Cananéia??? Se sim, me avise, trabalho na Associação Rede Cananéia e temos alguns empreendimentos solidários por aqui, quem sabe você poderá conhecê-los!!!

Teremos uma feira de economia solidária em Cananéia nos dias 11, 12 e 13 de fevereiro, se estiver por perto, apareça!!!

Abraços

Silmara“

Vai dizer que é coincidência? Respondi na hora que estava lá, e logo depois a Silmara, que tinha mandado o email me ligou dizendo que ás 18hs ia para a ioga, ao lado da praça aonde eu estava, e me encontrava lá.

Dei mais um tempo pela praça e depois fui com a Silmara para a Ioga. Já estava há um tempo querendo aprender algumas coisas de ioga para a viagem e esse encontro caiu do céu! Na ioga aprendi bastante e ainda conheci uma galera gente finíssima, que me chamou de volta para a ilha comprida, para um sushi vegetariano no quiosque de um deles.

Me rendi à ilha e ao sushi e peguei a balsa de volta. Agora estou aqui no quiosque La Luna, depois de ver golfinhos nadando ao meu lado na ponta da ilha e de comer um PFzão de peixe delicioso, ouvindo um som de primeira ( no quiosque só toca música boa: rock das antigas, blues, reggae, Elis...). Estou até tentando aprender a surfar...

Muito Obrigado ao Leandro, Ariadne, Eduardo, Silmara, Neto, Taís, e todos que encontrei nesses dias. E também a todos que têm me ajudado, nas mais diversas formas.

Estou cada dia mais admirado com o mundo em que vivemos, com a certeza de que, quando fazemos o bem, recebemos o bem em troca, e impressionado com os encontros que essa vida nos proporciona!

Um abraço inspirado, da Ilha Comprida-SP.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Bom dia Pessoal,

Antes de falar sobre a viagem, queria agradecer a todos os comentários que vocês deixaram aqui no blog. É muito emocionante ler tantas mensagens de incentivo e de amor a quilômetros de distância, ainda mais quando se viaja sozinho...

Quero agradecer também ao Rodrigo, meu primo, pela primeira contribuição à vaquinha da viagem!!!
Brigadão rapaz, vai me ajudar muito!

E de quebra agradeço também a todo mundo que tem me hospedado ou corrido atrás de hospedagem pra mim (salve santa jojo!).

Mas vamos ao que interessa:

Saí de Ubatuba no dia 28 meio tarde, pra variar, por volta de umas 8 e pouco... Queria chegar cedo a São Sebastião para atravessar logo para a Ilhabela, a tempo de procurar um pouso. Como não pretendia ir à ilha, não tinha corrido atrás de lugar pra ficar, e teria que ver na hora.

No caminho não parei muito, só o suficiente pra descansar, comer e dar uma refrescada (descobri que por aqui se bebe caldo de cana com limão). No caminho estava literalmente derretendo. Acho que nunca tinha suado tanto na minha vida. Quando vinha uma subida, que além de ter que fazer mais esforço não tem vento pra refrescar, eu me sentia um frango de padaria cozinhando com o sol por cima e o asfalto incandescente por baixo...

Chegando em São Sebastião, enquanto almoçava num serve-serve desses que você come a vontade (ô luxo!), descobri o porque: o dono da birosca comentava com um amigo que estava fazendo 41 graus!!! Ô idéia de gerico pedalar com mais de quarenta graus!!!

Depois de me empanturrar no almoço boca-livre, fui tomar um sorvetinho (tava sonhando com um sorvete desde de manhã, antes mesmo do sol esquentar tanto). Era uma dessas sorveterias chiquezinhas com 500 mil sabores e a peso, então fui colocando uma lasquinha de cada tipo, de uns 10 sabores pra comer o máximo possível e ficar baratinho. Ficou uma delícia, cada colherada era uma surpresa...

Depois da orgia gastronômica, me arrastei até a balsa para Ilhabela. A distância é um menor que Rio-Niterói, mas o canal é mega profundo ( algo como 60 ou 90 metros, não lembro, e passam vários navios. Tem até um terminal da Petrobrás no lugar, com mega petroleiros desembarcando óleo...

Enfim, a balsa é daquelas que carrega carro, caminhão, moto, gente, cachorro, papagaio, tudo junto, e tcharaaam: pedestres e ciclistas não pagam! (Alô Barcas S/A, vamos aprender com eles a respeitar o ciclista!!!). já na balsa um local que puxou papo me alertou que ia ter problemas na ilha. Segundo ele a ilha é precária em coisas baratas. Adorei o termo, e de fato isso é que é precariedade: só tem direito a se divertir na Ilhabela quem tem grana pra gastar.

Quando desembarquei fui a dois locais de informações turísticas e em amgos a mesma resposta: camping, de R$30 pra cima, pousada só a partir de R$120!!! Um roubo! Acostumado a pagar 10 ou 15 reais no máximo por um camping, fiquei indignado. Fui pra internet procurar gente no couch surfing (em cima da hora, quase impossível, mas...) ou dicas de lugares baratos, rodei, perguntei, e realmente o preço era esse. Tabelado. Nas minhas andanças acabei chegando numa casa de família com uma plaquinha de camping na porta. Também era trintão, mas era silencioso, bonitinho, ajudava uma família a pagar as contas e estava cansado demais pra ir mais longe.

Depois de tomar um banho num chuveiro poderoso e montar a barraca, fui dar uma volta pra conhecer o lugar. Subi a rua uns 50 metros e já parei por ali. Uma marcenaria fez uma espécie de show room a céu aberto em frente à loja deles, do outro lado da rua. É um jardinzinho com bancos, mesinha, luminárias, no meio da rua (ok, da calçada), e que dá acesso a um rio que naquele ponto corre junto à rua. Achei o lugar maravilhoso e fiquei por lá dando um mergulho no pocinho e lendo um livro.

No dia seguinte, acordei decidido a ir com bike e tudo para o sul da ilha e ficar num camping na praia do Velloso. Queria dormir mais no mato, acordar já na beira da praia (e pagar “só” 25 reais), que era o que eu tinha imaginado de Ilhabela. Assim que acabei de desmontar a barraca e ajeitar tudo (tudo mesmo) em cima da bike, me sai o dono da casa ( que até agora não tinha encontrado, quem me atendeu quando cheguei foi o filho dele) e fala – Nossa, tá carregando a casa inteira aí, hein...- pronto, fiquei duas horas conversando com o Fausto (o irmão do Saulo mudou pra Ilhabela?), sujeito gente finíssima, que adora um bom papo e tem muuuita história pra contar. No final da conversa, tinha mudado todos os meus planos (quantos planos!) ao invés de ir pro sul, ia ficar por ali mesmo e ia conhecer o norte, com a bike descarregada, e antes iria à Cachoeira da Toca, que ficava mais na rua do camping.

A cachoeira fica numa área particular, e você paga R$10 (!!!) (pechinchados para 5) para entrar, e mas lá dentro a estrutura é bem legal. Na entrada tem um barril de repelente de andiroba (os mosquitos na ilha são vorazes, nunca tinha visto nada igual) e o cara já avisa:

- passa no corpo inteiro, menos na sola do pé e no rosto! (adorei o detalhe da sola do pé)

Passei o repelente e ainda enchi um frasco que o Fausto tinha me dado, já com essa indicação.

Lá dentro são na verdade três cachoeiras seguidas, a própria toca, com um Pedrão enorme por cima, a ducha, que é uma daquelas cachoeiras que fazem massagem nas suas costas, e um escorrega bem divertido. Uma delícia, e pacote completo para a família. De quebra você pode também pegar uma provinha da famosa cachaça fabricada lá (às 11hs da manhã...).

Cachoeira da Toca

De lá, peguei a bike, já sem peso e fui pro norte da ilha (depois de comer um marmitex num banquinho na orla). Vários lugares lindos e curiosos, como a pedra do sino, uma pedra (na verdade algumas) que quando você bate nela com outra pedra, faz um barulho idêntico ao de um sino de igreja. Impressionante. Subindo mais, fui até a praia da Jabaquara, muito bonita, mas dominada por uns quiosques chiques (e caros). Essa é a última praia que dá pra chegar pela estrada, sem fazer trilha.

No caminho para essa praia, cansei da bicicleta (era uma estrada de terra com subidões cruéis e, afinal de contas, tinha vindo para a ilha para descansar da bike.) e, com uma dor no coração, escondi ela no mato e segui de carona. Na volta, peguei uma carona com um casal muito gente boa, que me fez lembrar dos meus amigos. Era um desses casais que adora viajar pra lugares de natureza, metendo a cara e acampando onde der, bem casal de doidão mesmo...
minha menina escondida no mato (aos biólogos: todas as plantas que estão sobre ela foram replantadas)

antes de resgatar a bike, fui conhecer a praia da Pacuíba, e fiz minha primeira tentativa no mundo do mergulho, com todo o meu equipamento (Sim, é claro que eu carrego equipamento de mergulho!), mas foi frustrante. A água estava turva e não vi nada...

Resgatei minha menina e parti pra casa. À noite fiquei conversando até 2hs da manhã com o Fausto, que me contou várias histórias da ilha (ela é cheia de lendas e histórias verdadeiras) e de sua vida, que é impressionante. Cara trabalhador, que correu muito atrás pra estar ali hoje.

No dia seguinte, deixei a bike descansando e fui conhecer o norte de carona. Nova tentativa no mundo do mergulho e, dessa vez, muuito bem sucedida. Vi vários peixes coloridos, algo que classifiquei como um cavalo marinho, com base em todo o meu conhecimento biológico, e, auge do mergulho, uma tartaruga!! =) lindo demais!!! Isso foi na ilha das cabras.

De lá, cachoeira dos três tombos, ou pancada d’água, ambos os nomes muito bons. Na Saida da cachoeira, dei de cara com o casal gente boa de novo, e peguei outra carona com eles até a estrada principal. Um dia a gente ainda se encontra de novo!!

De lá não estava conseguindo carona para seguir mais para o norte, então peguei um ônibus que ia até o final da estrada e segui até o ponto final, mas lá não tinha nada de interessante a uma distância razoável... enquanto pensava o que fazer fui andando de volta pela estrada, e depois de 50m, encontrei uma trilha que descia em direção ao mar. Fui descendo pra ver aonde dava e cheguei num lugar maravilhoso, que chamei de jardim de pedras, e que mais embaixo dava num costão de pedras no mar. Procurei um lugar mais seguro pra entrar no mar, onde as pedras formavam uma baiazinha, e mais mergulho.

Depois fiquei no jardim esperando o sol se por, já que tinham me falado que ali no sul era o melhor pôr do sol da ilha. Enquanto isso precisei até acender uma fogueira pra espantar os mosquitos e não ser devorado. Nem a citronela dava jeito. O pôr-do-sol foi realmente maravilhoso, e voltei pra casa moído de tanto andar.

No dia seguinte, despedida da ilha. Peguei a balsa novamente e a estrada...

pra variar, saí tarde demais. Ao invés de 7hs, como tinha pensado, só fui pegar a barca das 9. O que era bem ruim, já que eu pretendia fazer nesse dia a maior quilometragem até agora, 130km.

Saindo de São Sebastião, peguei a serra de maresias, para a qual já tinham me alertado. Na verdade são duas serras, você sobe a 300m uma, desce até o nível do mar em maresias, depois sobe tuuudo de novo, e desce do outro lado. E isso tudo numa estrada simplesmente vertical!!! Usei a marcha mais leve da bike (pra quem entende disso, coroa 22-32-42 e pinhão megarange 11-34) pela primeira vez na viagem ( e pela segunda, terceira, décima...) e empurrei por um bom pedaço... quando cheguei do outro lado, estava moído! Vi que não vali a pena forçar até o Guarujá, e fiquei na praia da Boracéia, num camping de R$10 (alô Ilhabela, isso é que é preço de camping!!!). O interessante nessa praia é que a areia era tão dura que eu pedalei por alguns quilômetros pela própria praia...

Da Boracéia, vim para o Guarujá, passando por outra balsa de grátis (Bertioga-Guarujá) e por uma estrada-parque (conceito interessante) já na “ilha” (acho que é uma ilha, mas não tenho certeza) do guarujá. Essa estrada passa no meio de uma área bem preservada de mata atlântica, e ao longo dela todas as lanchonetes na beira da estrada têm um chuveirão desse da foto na porta... uma delícia.

Já chegando em Guarujá, parei numa feira que estava tendo na rua ao lado da estrada (essas feiras são ótimas, me abasteço de frutas suculentas por muito pouco dinheiro) e comprei, além de umas goiabas e uvas, uma bacia de lichia por 1 real! E a lichia estava deliciosa... no rio seria pelo menos 5 pratas. De quebra ainda lucrei umas carambolas da xepa da feira...

Agora estou no guarujá, com minha prima Nayah, na casa dela e dos meus tios, Milton e Jacira. Obrigado!

Enfim, a viagem está sendo maravilhosa. Estou conhecendo lugares lindos, pessoas muito boas e aprendendo um bocado sobre esse mundão onde a gente vive...

Um beijo e um queijo (agora eu gosto de queijo!),

Leo, ou bici, como preferir...

Placa de Estrada também é Filosofia!


Será sempre muito cedo pra você se acostumar!
Amor não desista
Se você pára o carro pode te pegar!

(e no caso realmente poderia... hehe)

Não Pare Na Pista

Raul Seixas

Composição: Raul Seixas / Paulo Coelho

Não pare na pista
É muito cêdo
Prá você se acostumar
Amor não desista
Se você pára
O carro pode te pegar
Bibi! Fonfon! Pepê!
Se você pára
O carro pode te pegar...(2x)

Você me xingando
De louco pirado
E o mundo girando
E a gente parado
Meu bem me dê a mão
Que eu vou te levar
Sem carro e sem mêdo
Pr'o guarda multar
Meu bem me dê a mão
Que eu vou te levar
Sem carro e sem mêdo
Prá outro lugar...

Não pare na pista
É muito cêdo
Prá você se acostumar
Amor não desista
Se você pára
O carro pode te pegar
Bibi! Fonfon! Pepê!
Se você pára
O carro pode te pegar...

Você me xingando
De louco pirado
E o mundo girando
E a gente parado
Meu bem me dê a mão
Que eu vou te levar
Sem carro e sem mêdo
Pr'o guarda multar
Meu bem me dê a mão
Que eu vou te levar
Sem carro e sem mêdo
Prá outro lugar...

Não pare na pista
É muito cêdo
Prá você se acostumar
Amor não desista
Se você pára
O carro pode te pegar
Bibi! Fonfon! Pepê!
Se você pára
O carro pode te pegar
Mamãe! Papai! Irmão!
Se você pára
O carro pode te pegar
Vovó! Nené! Lili!
Se você pára
O carro pode te pegar...