sábado, 25 de junho de 2011

Chegando a Uyuni!

Cá estou eu novamente, diretamente de Uyuni, na beiradinha do maior salar do mundo!

O trajeto da fronteira até aqui foi lindo, mas bem penoso.

Fiquei em Villazon, a cidade da fronteira, por 2 dias, ajeitando algumas coisinhas na bike, comprando comida e correndo atrás de novas pernas para minha calça, já que tinha perdido uma das pernas (é daquelas calças-bermudas, que dá pra tirar as pernas por um zíper) em Humahuaca. A maior dificuldade era encontrar um tecido semelhante ao da calça pra comprar. Depois de rodar a cidade toda, acabei conseguindo um pedaço de um tecido bom em uma loja de coisas de segunda mão. Com os zíperes e todo o resto comprado, consegui um costureiro pra fazer-me novas pernas! Agora a calça é bicolor, lançando moda na Bolívia!

Pias com a torneira fechada a chave no mercado de Villazon

Também aproveitei o tempo na cidade para finalmente fazer algo com um monte de lã que tinha encontrado na beira da estrada há quase um mês. Fiz uma espécie de pantufas pra dormir com os pés quentinhos. Já foram testados e estão aprovadíssimos! Pés quentinhos nesse frio é importante!

Com as pernas prontas, a bicicleta ajeitadinha e os alforjes cheios de comida, peguei a estrada para Tupiza. No começo estava tranquilinho, mas depois de algum tempo o vento contra ficou mais forte, o que me fazia seguir lentamente...

No meio do caminho, conheci Coni, uma Alemã que veio da Costa Rica até a Argentina em uma moto de 100 cc, com um mochilão amarrado na garupa. Uma grande viagem, que estava acabando naquele dia. Quando chegasse em Tupiza, venderia a moto a um australiano que seguiria viajando com ela. Combinamos de nos encontrar em Tupiza, passei o nome do albergue em que Matt, meu amigo americano, estava e seguimos viagem, cada um no seu ritmo.

Cada um no seu ritmo, mas todos na estrada...


Nos últimos 30km, a estrada entrava em um vale lindo, com montanhas escarpadas e coloridas dos dois lados da estrada. Chegando mais perto de tupiza, o vale foi ficando mais estreito até chegar a este ponto:



Vendo de longe, não estava entendendo por onde a estrada ia seguir, até chegar perto e ver a entrada do túnel, recortado na pedra bruta ao lado do rio. Tunelzinho pitoresco, em meio a um vale lindo. Depois do túnel, o vale abria um pouco mais e uns 15km adiante já estava Tupiza. Nessa hora passou por mim o trem, vindo da fronteira e subindo em direção a Uyuni e Oruro. Cheguei em Tupiza no finalzinho do dia e, quando cheguei à pousada, Matt e Coni já estavam me esperando para irmos jantar.

Em Tupiza, finalmente consegui colocar no correio um presentinho para Sofia, minha linda sobrinha, que tinha comprado em Salta, na Argentina! A cidadezinha era bem simpática, mas bem turística. Alguém na cidade teve a idéia de abrir um restaurante italiano (pasta & pizza) para agradar a turistada, deu certo, todos os vizinhos seguiram a onda e hoje são uns 15 restaurantes com exatamente o mesmo menu inexpressivo e caro. Mas sempre dá pra encontrar os lugares aonde as pessoas do lugar comem, e aí sim vale a pena: barato, com comidas típicas (carne de lhama, chuño (uma batata que é congelada nas geadas do altiplano, então encolhe e fica preta, aí então é cozida), mote (um milho grandão cozido), arroz, e muitos molhos picantes. E sem falar nas sopas temperadíssimas das mamitas bolivianas.

Todos esticamos a estada em Tupiza mais um dia para ir à feira do milho, ou Feria Del Maíz. Uma feira para valorizar o trabalho dos agricultores que preservam as centenas de variedades de milho que se cultivam por aqui e estimular esse trabalho. E também uma ótima oportunidade para conhecer vários pratos típicos preparados com milho, além de várias bebidas bem diferentes.







Depois da feria, à tarde fui com a alemã fazer um passeio à cavalo por um cânion nos arredores da cidade. Lindo trajeto, e uma mudança de meio de transporte bem interessante...



No dia seguinte, Coni seguiu de ônibus para a Argentina, o australiano que comprou a moto ia ficar mais alguns dias na cidade se recuperando de uma gripe e eu e Matt caímos na estrada em direção a Uyuni.

Tem certeza que a gente tem que ir pela estrada da esquerda?

Tínhamos ouvido falar que a estrada era meio ruim, e que teríamos muita subida pela frente, mas ninguém tinha falado nada sobre o vento. E os ventos que encaramos nessa estrada eram inacreditáveis. Nunca tinha visto nada parecido com aquilo, quando vinha uma perna de vento forte, ele simplesmente te fazia parar, era como se alguém te puxasse pra trás...


Olha o vento aí!!!
Muito vento!!!

Uipala, a bandeira andina
Subiiindo!

Não me pergunte porque, mas a estrada sempre seguia pelo topo das montanhas...

Subiiiiindo!

No primeiro dia, depois de sofrer com muito vento e muuuita subida, o sol começou a baixar e ainda estávamos num trecho da estrada em que ela corria num topo de montanha e não dava nenhum sinal de que iria descer em momento algum. E là em cima ventava absurdamente, um vento gelado que à noite sem dúvida alguma nos faria passar muuuito frio. Começamos a nos preocupar e perguntar aos carros que passavam quanto faltava para o próximo pueblito. Ninguém sabia dizer ao certo, mas uns dois motoristas nos disseram que não estava muito longe, que logo a estrada desceria até um vale onde haveria algum abrigo. Depois de mais algum tempo, já começando a escurecer, passamos por um ônibus batido (tinha batido de frente com um outro ônibus que já tinha passado por nós descendo a ladeira). Chegamos ao mesmo tempo que um onibus novo que tinha chegado pra resgatar o pessoal, jà que o onibus batido não ia se mover dali tao cedo. Já estávamos pensando em passar a noite no ônibus batido, que seria o melhor abrigo até o momento, mas perguntando às pessoas do ônibus se havia mesmo algum pueblito por ali, uma senhorinha se compadeceu do nosso desespero, me olhou no olho e respondeu com certeza que havia sim uma vila, com uma escolinha onde poderíamos passar a noite. Teriamos que subir mais um pouquinho mas logo depois já chegaríamos a um descidao e, no fundo do vale, a vila.


Quase passamos a noite dentro do ônibus que bateu de frente com esse

Com essa resposta mais confiável, confirmada por um carro que passou logo depois, seguimos já congelando no vento frio e, depois de uma subidinha e um descidao avistamos uma casinha um pouco afastada da estrada. Não tivemos nem duvida, fomos direto para a casa, que estava trancada mas tinha um puxadinho, um quartinho provavelmente para as lhamas se abrigarem do frio, que era perfeito para a gente. Com os últimos raios de sol, pegamos tudoq eu precisaríamos nas bicicletas e entramos no nosso palácio andino, agradecendo a todos os santos, orixás e espíritos por aquela bencao.

Palácio Andino!

No dia seguinte continuamos na mesma penúria de subidas, muito vento contra e visuais lindos. Em um certo ponto eu me sentia pedalando no topo do mundo, no céu. A estrada passava por um topo de serra (pra que construir as estradas exatamente no topo da serra? Só pra nos fazer sofrer?) e podia ver ao redor as montanhas lá embaixo... cena indescritìvel.


Dormimos nessa casinha aí à direita

Dessa vez já ficamos mais precavidos quanto a um lugar para passar a noite e de olho no relevo, se a estrada ainda subia muito, se baixava até algum vale mais abrigado... quando a estrada desceu até a beira de um rio e já era o final da tarde, procuramos um par de casas e pedimos para passar a noite em algum lugar abrigado. Depois de uma conversa com uma velhinha traduzida por seu neto, porque ela só falava quechua, nada de espanhol, outra béncao: nos deixaram passar a noite numa casa onde ninguem estava morando, com uma cama e tudo. Tiramos na sorte e eu, claro, acabei perdendo e dormi no chao... mais uma vez jantamos agradecendo à providência!

Segundo Palácio Andino!

No dia seguinte finalmente tivemos um dia mais leve. Dali para a frente já pegamos algumas descidas, pouca subida e um vento bem mais tranquilo. Por volta de meio dia chegamos a Atocha, uma cidadezinha mineira encravada no meio das montanhas. Comemoramos a chegada com um almoco e decidimos ficar por ali o resto do dia.



Dormimos na casinha da esquerda
Finalmente uma descidinha!

Atocha!

O dia seguinte comecou com mais subida, mas depois de uns 20km chegamos finalmente ao Altiplano Boliviano, e tudo ficou planíssimo, mas o vento ainda castigava. No fim do dia chegamos a um pueblito na metade do caminho até Uyuni e, depois de comer um pratinho de carne de lhama com milho na única venda/restaurante do lugar, decidimos tentar ficar por ali mesmo. Perguntei à dona Modesta, dona da vendinha, se havia algum lugar onde pudéssemos passar a noite e, mais uma vez, conseguimos um palácio. Ela mesma tinha um quartinho do outro lado da rua (única rua do lugar, que era a própria estrada), com direito a uma cama e alguns couros de lhama pra forrar o chao.

Obrigado, dona Modesta!


Caiçara fazendo charme pra não subir a ladeira

Nessa vilazinha assisti (e fotografei, claro) um dos por-do-sol mais lindos da minha vida, com o sol iluminando uma nuvem enorme e pintando todo o altiplano de amarelo, laranja, vermelho e mais uma infinidade de cores que um mero daltônico é incapaz de nomear.

No dia seguinte, depois de um cafezinho (ô saudade do café do Brasil!) na dona Modesta, seguimos viagem por uma estrada que, apesar de continuar plana, a cada metro pedalado, piorava. Era um revezamento entre areia fofa e aquelas costeletas que fazem a bicicleta ficar quicando, maltratando o pobre pedalador e a guerreira Caicara. A estrada era tao ruim que ao lado já existiam vários caminhos paralelos abertos pelos jeeps que preferiam rodar fora da estrada. na maior parte do tempo era melhor ir pedalando por esses caminhos, por piores que fossem.

Os caminhos do dia:





De tardinha, moído pela estrada, avistei a cidade de Uyuni ao longe. Ainda foram mais 10km intermináveis até entrar na cidade e parar na primeira barraquinha de comida para uma porcaozinha de carne de lhama com milho e batata. Depois de nos alojarmos em um albergue, eu, Matt e Clement, um francês que estava acabando sua viagem de bike aqui, depois de subir desde o ushuaia e passar pelo sudoeste da bolìvia e o salar, fomos rodar pela cidade vendo as festas do dia de são joao, 23 de junho. Várias fogueiras na rua, umas bebidas estranhas (aqui se bebe leite com álcool!) e fogos de artifício.

Descobri que na Franca também se comemora são joao, com uma semana de festas, com torneios de carregar toras de madeira e outras provas físicas, e muita comida típica. Contei um pouco da nossa festa junina e do são joao no nordeste.

No dia seguinte recebi um email abencoado, dos meus pais dizendo que virao me encontrar aqui na bolìvia!!! Já estavam com passagem comprada e tudo, entao ontem e hoje corri atrás de ajeitar a estada deles na bolìvia, e hoje à noite devo ir para sucre de ônibus, para passar uns dias por lá trabalhando no projeto final e esperando a chegada deles. Não vejo a hora!

terça-feira, 21 de junho de 2011

Bolívia!!!

Como ia dizendo na última postagem (alguem tem um nome melhor pra isso?), no dia seguinte o casal seguiu ladeira acima em direção ao passo de Sico, para o Chile e de lá vão fazer o caminho que eu pretendia, passando pelas lagunas e montanhas do sudoeste da Bolívia. Eu e Matt pegamos a estrada rumo a Jujuy, por uma estradinha que em algumas partes mais parecia uma ciclovia de tão estreita. A estrada passava por uma serra, cercada de verde, sem trânsito algum... uma delícia! No meio dessa estrada encontramos Cath, australiana, e Sheryl, neo-zelandesa, também indo em direção a Jujuy, então nosso bonde cresceu.



A estrada-ciclovia. a faixa é da largura de duas bicicletas....





Nesse dia acampamos num camping municipal (quase toda cidadezinha por aqui tem um) ao lado de uma represa. No dia seguinte pegamos a estrada e rapidinho chegamos a San Salvador de Jujuy, capital da província de Jujuy (esses argentinos não têm a menor criatividade) (ok, ok, nem os cariocas, nem os paulistas, mas aqui todas as províncias têm o mesmo nome da capital...

A árvore que nos acolheu no camping municipal



Enquanto o pessoal descansava na praça principal e dava uma olhada no mapinha da cidade, eu liguei pro Sergio, mais uma boa alma do couch surfing, para ver se ainda estava de pé a oferta de hospedagem. Mesmo chegando duas semanas depois do combinado e com 4 pessoas ao invés de uma só, o camarada nos abrigou a todos em seu apartamento com belas pinturas nas paredes.



Depois de deixar as bikes abrigadas na casa dos pais do Sergio, passamos no mercado e fomos fazer um almoção glorioso na casa dele. Assumi a cozinha e fiz arroz do jeito certo (só brasileiro sabe fazer arroz), um refogado de berinjela, cebola, cenoura e tomate, esquentamos um feijão preto que milagrosamente o Sergio tinha na geladeira e Sheryl fez a salada. Esse almoço foi um momento sublime! Nos empanturramos e no final, pra fechar com chave de ouro, tomamos um cafezinho... me senti de volta ao Brasil com um almoço de verdade como há muito tempo não comia.



Só para entenderem porque esse apreço todo pelo almoço: quando estou pedalando quase nunca almoço, vou comendo frutas, biscoito, castanhas, sanduíche, comendo várias vezes ao longo do dia coisas leves, e à noite como uma refeição mais consistente. E como só carrego uma panela, é tudo preparado junto, e não essa fartura toda. Além disso, aqui na Argentina almoço e jantar geralmente é um pedaço de carne e mais um acompanhamento, geralmente ou purê ou salada. Para alguém acostumado com as fartas refeições brasileiras e que gosta de comer tanto quanto eu, dá saudade de um almoção parrudo.



Enfim, voltando a Jujuy, o resto do dia foi dedicado a algumas comprinhas (de comida, claro) e aconhecer a sede da Tupac Amaru, uma organização social sobre a qual tinham me falado e que queria visitar para meu projeto final. Como cheguei no final da tarde, combinei de voltar na manhã seguinte para ir conhecer as cooperativas e o bairro construído por eles.



À noite fizemos mais um banquete na casa do Sérgio, dessa vez preparado pelas meninas. Pimentão recheado com legumes, carne moída e arroz. Delicioso.

Na manhã seguinte Matt e as meninas caíram na estrada e foram conhecer um lugar com águas termais no caminho para a fronteira com a Bolívia e eu fui ao tal bairro da Tupac Amaru. O lugar era impressionante! Enorme, com milhares de casas, uma área de lazer gigante, posto de saúde, escolas, uma fábrica de blocos de cimento para a construção das casas, outra de móveis escolares, uma metalúrgia, uma fábrica têxtil, todas cooperativas, e tudo isso construído a base de muita luta, mutirões e pressão sobre o governo para liberar verba. Para o projeto visitei a cooperativa têxtil e a fábrica de blocos.


Depois do almoço peguei a estrada, fui até Yala e fiquei hospedado numa casa bem legal, mistura de camping, albergue e república, chamada La Boheme. Obrigado, Juanjo!






No dia seguinte começou a subida de verdade. De 1.444m em Yala fui até 2.094, em Purmamarca. Subidinha forte, mas recompensada com a visão da Montaña de Siete Colores ao fim do dia. Purmamarca é um pueblito charmoso que tem o privilégio de estar ao pé dessa obra de arte da natureza e por isso é beem turísitico.

Eu tava subindo desde láááa de baixo


Viu, é mais seguro viajar de bicicleta do que de trem...





A fumacinha lá no fundo é o vento levantando a poeira do chao. vento contra na subida dos Andes...




La montaña de siete colores








Em Purmamarca passei pelo momento de maior aflição e até um certo desespero, da viagem, mas tudo se resolveu e acabou bem. Quando estava procurando um camping para passar a noite, um sujeito me ofereceu para acampar num terreno em frente à casa dele por 5 pesos. Como nos dois campings em que tinha estado não tinha ninguém e o terreno era simpático, com um montão de lenha seca, resolvi aceitar. À noite, enquanto estava cozinhando e jantando, a bicicleta estava encostada numa árvore a uns 20 metros de mim, à vista mas nem tanto, já que estava escuro. Quando acabei de comer e fui guardar algumas coisas na bicicleta, notei que haviam mexido na bolsa em que levo a máquina fotográfica. Quando peguei a bolsa, ela estava leve, sem nada dentro. Me desesperei, alguém tinha passado ali enquanto eu jantava e roubado minha tão preciosa máquina. Depois de tanto tempo juntando dinheiro para comprar e pesquisando qual a melhor máquina para mim, tinha deixado ela ir embora assim tão fácil.



Falei com o dono do terreno, procuramos ali em volta e desci para a polícia. Registrei a ocorrência, voltei ao lugar com a polícia, mas eles disseram que àquela hora não poderiam entrar na casa do sujeito (nesse momento já estava começando a desconfiar do próprio cara) e que voltariam na manhã seguinte para conversar com ele. Me alojei no albergue mais barato da cidade e na manhã seguinte, depois de ir à polícia e ouvir que ninguém tinha visto nada e que não havia mais nada o que fazer, comecei uma odisséia para encontrar a máquina. Fui à rádio da cidade, expliquei o ocorrido e a cada meia hora o cara da rádio anunciava o que tinha acontecido e pedia para quem tivesse alguma informação avisar.



O pessoal da pousada, que abraçou minha causa, me disse que o sujeito que me ofereceu o terreno e o amigo dele eram de outra cidade e que já haviam roubado outras pessoas, então provavelmente tinham sido eles mesmos. Eu também já estava desconfiado disso porque se mais alguém tivesse passado pela bicicleta eu teria visto. Então voltei ao lugar onde tinha sido roubado e conversei com os caras, expliquei que não era um gringo cheio de grana, que tinha trabalhado muito para conseguir comprar a máquina, que não teria condições de comprar outra, que era fotógrafo e era uma ferramenta de trabalho, e por fim que estava disposto a pagar uma recompensa a quem encontrasse a máquina, então que eles por favor me ajudassem a procurar.



Depois de mais duas visitinhas, conversas com vizinhos, idas à rádio, no final da tarde um dos sujeitos veio me procurar dizendo que tinham encontrado a máquina dentro do chiqueiro que ficava ao lado de onde estava a Caiçara. Esses porcos são mesmo muito inteligentes: conseguem abrir um zíper, tirar a máquina, fechar o zíper e guardar a máquina no chiqueiro até o dia seguinte sem nem sujar ela de lama!



Mas enfim, acabei “comprando” a máquina de volta dos próprios ladrões com a tal recompensa, que me saiu cem reais. Aliviado, voltei para a pousadinha com minha preciosa. Muuuito obrigado ao pessoal da pousada Mama Coca e ao cara da rádio, cujo nome eu esqueci.



Pra nao ficar a má impressao de Purmamarca, aí vao algumas fotinhas da tal montanha de siete colores, destaque do lugar...




Esculturas naturais






Aproveitei o resto do dia pra finalmente pendurar uma bandeirinha do Brasil na bike, com um bambu que catei na estrada e ajeitar algumas coisas que estavam pendentes...




Cruzando novamente o trópico de Capricórnio. A primeira vez tinha sido em Ubatuba, SP, na primeira semana da viagem... 4 meses e uns 5mil km depois, volto aos trópicos!


No dia seguinte peguei a estrada morro acima, e dos 2.094 de Purmamarca, subi até 2.936 , em Humahuaca. Dia puxado, de manhã com vento contra e à tarde com vento a favor, e já sentindo o efeito da altitude. Da metade do caminho pra frente já me cansava muito mais rápido e tinha que parar várias vezes para tomar fôlego. Marcha mais leve, concentração na respiração e muita calma.




Olha a Bolívia comecando a dar as caras!!





Chegando em Humahuaca, cidadezinha super charmosa, toda antiguinha, conheci um casal de Argentinos também viajando em bicicleta. Tinham ido até a fronteira com a bolívia e voltado, e me disseram que viram Matt e as meninas uns 20km depois dali. Todo mundo que eu conhecia que estava vindo do lado de lá perguntava se tinha visto três gringos de bicicleta, e sempre conseguia saber mais ou menos onde eles estavam. Conheci também dois irmãos brasileiros viajando por aqui. Já havia um tempo que não encontrava nenhum brasileiro, mas acho que agora com a bandeirinha fica mais fácil.





Dormi num posto de gasolina do Automóvel Club Argentino, que sempre tem um espacinho nos fundos onde deixam viajantes acamparem de graça. Obrigado!



No dia seguitne, mais um dia de subida forte, e agora sentindo muito os efeitos da altitude. Muitas paradas, muita respiração, muita água, muita calma e pouquíssimos quilômetros... Normalmente faço uns 80 a 100km por dia, na subida de Purmamarca para Humahuaca, já com altitude, 64, mas nesse dia, só 37 e já estava pedindo arrego. Pretendia subir até Três Cruces, a 3.693, e a partir dali seria um descidão e depois plano, mas quando cheguei a Azul Pampa, a três mil quatrocentos e pouco já dei por encerrado o dia e parei por ali mesmo. Pelo mapa achei que seria um pueblozinho pequeno, mas na verdade era só uma escola e mais umas três casas em volta. O gente boa que toma conta da escola me ofereceu para eu dormir dentro do invernadeiro, uma casinha com teto de lona transparente, tipo estufa, que faz ela ficar quentinha. Ótimo abrigo, fogueirinha pra cozinhar e esquentar, e uma lua quase cheia, já iluminando tudo, cercada de milhões de estrelas. Ô sorte!



Cozinhando em Azul Pampa




Na manhã seguinte tive um sinal de que dali pra frente o frio ia ficar feio. Quando acordei, as garrafas de água tinham uns pedacinhos de gelo... não estavam congeladas, mas tinham gelinhos. Acabei voltando a Humahuaca de ônibus, porque percebi que havia esquecido as pernas da minha calça-bermuda... acabei encontrando uma só e agora tenho uma calça perneta! Voltei a Azul Pampa de carona com um casal cordobês e caí na estrada. A subida até o topo da estrada, a 3.780m até que foi tranqüila, mas a tal Três Cruces era só um posto da polícia e o alojamento de uma mina. Ainda bem que fiquei em Azul Pampa, muito mais simpático. Por aqui rolam várias minas, já que os Andes são riquíssimos em vários minerais. Daqui se extrai ouro, prata, estanho e todo tipo de minério em minas a céu aberto, uma grande polêmica...



Gelinhos....



Muitos gelinhos!!!!




La Puente del Diablo



Um pouquinho depois de Três Cruces, o ponto mais alto da estrada, e ao lado a tão aguardada placa avisando que depois de tanta subida, finalmente vinha uma descidinha...




Pedalei até Abra Pampa, cidade não muito simpática, que tinha um cartaz dizendo: a Sibéria argentina! E pelas ruas, mesmo no fim de um dia quente, ainda tinham algumas poças d’água congeladas. Eu é que não acampo num lugar desses!!! Depois de procurar pelos hotéis e pousadas, todos muito caros, vi um ginásio coberto e resolvi pedir pra dormir ali dentro. Quando perguntei a um cara que estava assistindo a um jogo de futebol no campo ao lado, ele disse que não sabia quem era o responsável, mas que a igreja tinha uns alojamentos baratinhos. Me levou até a igreja, mas a pessoa responsável também estava, então ele me ofereceu para dormir numa casa que ele tinha e só usava para guardar a moto. Bendita alma! Passei uma noite quentinha e, só pra testar, deixei uma garrafa do lado de fora e outra do lado de dentro da casa. A de dentro, normal, a de fora completamente congelada. Até a torneira tinha uma gota de gelo na ponta...



Muuuuito obrigado, Pablo!!!


Pôr do Sol em Abra Pampa




Agora sim congelou!


Muuuito Obrigado, Pablo! Notem na calca de uma perna só...
Pedalando no frrriiioo

Pé na estrada para um dia pelo qual já estava ansioso há tempos. Finalmente chegaria à Bolívia! Pedalei forte o dia todo para chegar logo (ou tão forte quanto a altitude me permite) e de tardinha cheguei a La Quiaca, a cidade da fronteira do lado argentino. Parei em uma internet para ver aonde Matt estava e atravessei a fronteira.


Até hoje as Malvinas sao argentinas nos mapas argentinos. Briga por território e petróleo.


Finalmente a Fronteira!




Momento emocionante! Depois de mais de dois meses na Argentina, finalmente entrava na Bolívia. É só cruzar a fronteira que já se vê a diferença gritante de um país e outro. Do lado boliviano, muito mais gente na rua, mais cores, mais movimento, mais confusão... me sentia mais em casa, de alguma forma. Adorei a Argentina, gostei muito mesmo, mas confesso que me senti muito mais em casa do lado de cá da fronteira. Várias comidas de rua, mais sabores, camelôs, lojinhas que vendem de tudo apinhadas de produtos até o teto... a Bolívia é ótima...



Neste momento estou em Uyuni, na beiradinha do Salar. E feliz da vida de ter chegado até aqui! Os cinco últimos dias de viagem foram sem dúvida alguma os mais difíceis até agora. Subidas infinitas, estrada de terra, mais de 4mil metros de altitude e muito, mas muuuuito vento contra. os ventos mais fortes que já vi na vida. Em cinco dias fizemos apenas 200km, o que faria em dois dias normalmente. Mas conseguimos ótimos lugares pra dormir todas as noites, e o visual era lindíssimo!



Hoje à noite vou atualizar aqui mostrando esse trecho penoso...



E agora hà pouco recebi um email maravilhoso, dos meus pais dizendo que virao me encontrar na Bolívia e conhecer o Salar!!! ô dia feliz!





Beijos!