domingo, 13 de março de 2011

Enfim, Floripa!!!

Boa noite pessoal,

Em Joinville, depois de uma ótima noite de sono em uma suíte presidencial, pela manhã conheci o empreendimento da Sirlanda e Eliane, Recriando em Fibras, que produz artesanatos em papel reciclado e fibras de bananeira, além de diversas outras fibras naturais e materiais reciclados. Elas recolhem aparas de papel em gráficas, transformam as aparas em folhas de papel novamente e adicionam as fibras de banananeira, depois de um processo trabalhoso de cortar o caule da bananeira em pedacinhos, cozinhar, bater no liquidificador...

Para colorir o papel, elas utilizam só corantes naturais, e aí a criatividade toma conta: açafrão, urucum, cebola... elas vão fazendo uma alquimia e criando tons novos na base da tentativa e erro. Com as fibras elas também inventam bastante, usam fibras de coqueiro que cai no quintal, restos de material têxtil. E com essas coisas todas vão criando lindos cadernos, blocos, abajures. O trabalho é bem bonito e pelo que percebi vem rendendo bons frutos.

Depois de um bom papo com as duas fui com o Dalfovo conhecer o Consulado da Mulher, onde ele trabalha, uma organização ligada à Cônsul que promove ações de geração de renda com grupos de mulheres, tendo como base a economia solidária. O trabalho é muito interessante, e bastante abrangente. Apóiam projetos no Brasil inteiro utilizando a educação popular e fornecendo material e metodologias para os grupos apoiados.

Conheci também o Espaço Solidário, um espaço dentro da fábrica da Cônsul/Whirlpool onde são comercializados alimentos fabricados por um grupo de mulheres que também é responsável por vendê-los e gerenciar o espaço, dividir os recursos obtidos, trabalho bem bonito.

Para completar, à tarde fui conhecer o grupo da oficina de teatro da ADEJ, um trabalho desenvolvido com deficientes físicos e mentais no qual a arte é trabalhada como forma de interação social, desenvolvimento das potencialidades pessoais de cada um dos envolvidos e também, em um futuro próximo, geração de renda. O grupo já fez algumas apresentações em Joinville e estão ensaiando para mais um espetáculo. Esse trabalho me emocionou pelo carinho que recebi das pessoas e pela animação do pessoal.

À noite, rolou um jantar delicioso na casa da Sirlanda, uma macarronada à putanesca (ou moçanesca, né mãe?) com o pessoal de Joinville, com direito ao tradicional Apfelstrudel e, no final, uma super surpresa: Eliane entrou com um bolo e uma velinha (0 anos!) acesa. Por um momento nem acreditei. Olhei em volta para as crianças, filhos do Dalfovo pra ver se era algum deles que estava fazendo aniversário e, depois de uns 5 segundos, caiu a ficha. Tinha comentado que meu aniversário tinha sido uns dias antes e minhas anfitriãs preparam uma festinha de aniversário para mim! Fiquei com os olhos cheios d’água, sem acreditar... foi um momento lindo, muuuuito obrigado, pessoal!!

Bolinho de aniversário

No dia seguinte tomei um café reforçado e segui viagem. Quando estava saindo de Joinville, percebi que não tinha conhecido a parte turística da cidade, que era super bonitinha, e resolvi mudar um pouquinho meus planos. Fui atrás do museu da bicicleta (é claro, né!), mas estava fechado. Conheci a antiga estação de trem, o museu do imigrante, que mostra um pouco da vida da região na época em que foi colonizada, e o museu do sambaqui. Depois tirei uma foto no portal da cidade e fui até um posto de gasolina para dar minha primeira trapaceada da viagem. Peguei uma carona de caminhão até Floripa para chegar na cidade para o carnaval (como bom carioca, não podia deixar o carnaval passar em branco no meio da estrada, né...).

Em Floripa, atravessei a ponte junto com os carros pra no final descobrir que tinha uma passarela para pedestres e bicicletas, atravessei o penoso morro da Lagoa e fui para a casa da Glau, minha ex-companheira de casa lá em nikiti city. Ela estava no Rio, mas o Chico e o pessoal que estava por lá me receberam super bem. A casinha era linda, no meio do mato, com um paredão de vidro, lareirinha no meio da sala, um charme. Lá, além do Chico, estavam morando dois caras das ilhas Canárias, que me ensinaram muito sobre um lugar que não conhecia nada, Ricardo (Canário) e Lucas, e dois amigos deles estavam passando uns dias por lá, um uruguaio e outro argentino. Juntando com o Chico, mato-grossense, e eu, carioca, a casa era bem variada. Vários sotaques e idiomas se misturando.

Floripa era o meu primeiro grande objetivo da viagem, então foi muito legal chegar aqui. Quando se está viajando de bike, você vai criando uns objetivos, que no meu caso são de três "níveis": um pro dia, aonde pretendo chegar e dormir; o segundo, regional, algum lugar legal onde eu conheça alguém ou queira visitar algo que já tenha em mente; e o terceiro, mais distantes, são os lugares onde a viagem muda de rumo, como Floripa, de onde vou entrar para o interior (na verdade vai ser de Laguna), ou San Pedro de Atacama, onde viro para o norte rumo à Bolívia. Depois de Floripa, meu grande objetivo passa a ser a fronteira com a Argentina, el Soberbio, onde a viagem não muda de rumo, mas de idioma, e onde vou encontrar algumas pessoinhas iluminadas que me fazem um bem imenso.

Preparando o almoço na casinha da Glau

O carnaval em Floripa era bem mais tímido do que eu estou acostumado (ok, não podia esperar encontrar o carnaval carioca ou o de Olinda do ano passado, né...), mas deu pra aproveitar um pouquinho, com direito a maracatu, samba de roda, marchinha... conheci tambvém várias praias lindas (Joaquina, Mole, Galhetas, Matadeiros, Pantâno do Sul, Solidão, Campeche...) e um pessoal muito gente boa. Além do pessoal da casa e de várias argentinas (em Floripa tem mais argentino que gente), conheci a Lolita, amiga do Flavinho, meu ex-chefe (hehehe), que depois de um almoção vegan, me levou pra conhecer a praia de matadeiros e Érika, Markito e Sofia. Esses três conheci através da própria Érika, que respondeu o email que mandei pra meio mundo de gente falando sobre o projeto e pedindo ajudas e indicação de organizações. Marcos mora em uma casa muito legal, construída com material de demolição e em esquema de mutirão, com o banheiro seco mais bonito que já conheci, vários mosaicos feitos por ele mesmo... fiquei encantado com a casa! No dia que conheci eles, Markito e Sofia estavam chegando de uma viagem á guarda do Embaú de bike.

Acabei dormindo por lá e no dia seguinte fui com ele conhecer a Revolução dos Baldinhos, na comunidade Chico Mendes, que fica em Floripa, mas no continente. Essa revolução começou quando a comunidade resolveu tomar uma atitude para acabar com uma infestação de ratos. Além de desratizar, viram que precisavam tirar o alimento dos bichos para evitar que voltassem. Começaram então a separar o lixo orgânico do restante e recolhê-lo para uma composteira, para fazer o lixo virar adubo. Hoje o pessoal recolhe toneladas de restos de comida que iriam para o lixo e, no terreno de uma escola da região, colocam para compostar e o adubo é redistribuído para que o pessoal da própria comunidade utilize para plantar em casa. Para recolher o lixo, existem 20 Postos de Entrega Voluntária (PEV) espalhados, em escolas e casas de moradores, para onde o pessoal leva o lixo e de lá, duas vezes por semana, ele é recolhido para a composteira.

A Revolução dos Baldinhos!A Caiçara pegando uma carona pra conhecer a comunidade Chico Mendes

Acompanhei uma ronda recolhendo o lixo e vi que o trabalho ali é exemplar, e precisa ser replicado pelo país afora. Fiquei pensando o tempo todo nas inúmeras comunidades no rio que têm problemas graves com o lixo e que poderiam estar fazendo um trabalho semelhante. Na ronda conheci também a horta da Margarida, uma moradora que resolveu plantar num canteiro na beira da BR, e hoje colhe diversos alimentos de um pedaço de terra que de outra forma estaria completamente inutilizado.

Um abração para o pessoal do projeto! Adorei conhecer!

De lá fui conhecer a sede do Cepagro, onde o Marcos trabalha.

Lagoa do Peri, com uma névoa fantasmagórica

Pretendia sair de floripa na sexta-feira, dia 11, mas o clima não permitiu. Saí no sábado, rumo a Bombinhas, para fazer o trecho que pulei com a carona antes do carnaval. Foi um dia intenso!

Em Biguaçu conheci o museu Etnográfico na casa dos Açores, casa bem bonita e, alguns quilômetros depois, pssssssss trumblublumblum... pneu furado! Peguei as ferramentas, virei a bike de cabeça pra baixo em pleno acostamento da 101 e achei logo a razão do furo: uma aparazinah de metal fincada no pneu. Enquanto remendava a câmara, passa um sujeito com uma bike carregadona e várias bandeirinhas penduradas atrás, sendo a maior a do Chile. Gritei e ele parou para um papo. Luís é um chileno que saiu de seu país há três meses, passou pela argentina, Uruguai, entrou no Brasil pelo Chuí, está subindo pelo litoral e pretende pegar um navio de Paranaguá para a África, subir para a Europa, depois Oriente Médio, Ásia, da China para o Canadá, e de lá descer de volta para o Chile. 2 anos e meio de estrada! Quem quiser conhecer, aí vai o blog do cara: www.madretierradelvalle.blogspot.com.

Até o momento, o recorde da BR-101 de local mais perto do mar

E o recorde de placa-peneira. contei 31 furos, emais uns 8 amassados...

Ele seguiu viagem e eu fiquei terminando o serviço. Depois de resolvido o problema do pneu, pedalei mais uns quilômetros e encontrei com ele de novo, parado no acostamento com um grupo de chilenos e brasileiros que tinha parado para saber a história dele e tirar umas fotos. Dali fomos pedalando juntos até Tijucas, onde nossos caminhos se separavam. Ele seguia pela BR-101 e eu entrava á direita em direção a Porto Belo e Bombinhas. Depois de passar por vários lugares que seriam lindos se não fosse o tempo fechadão e o chuvisco constante, cheguei a Porto Belo, e aí a garoa que me acompanhava desde de manhã virou um pé d’água pesado. Fiquei um tempo debaixo de uma marquise esperando mas vi que não ia passar nunca. Quando deu uma diminuída, segui em frente. Mas logo depois voltou a ser um toró forte, e cheguei a Bombinhas ensopado. Depois de uma subida de morro passando por verdadeiras cachoeiras de água de chuva que descia da encosta e uma descida emocionante em que tive que descer da bike e ir empurrando porque debaixo do aguaceiro os freios não eram muito confiáveis, cheguei à casa do Aguimar. Mais um pouso pelo Couch Surfing, e mais uma vez, muito bem recebido! Quando cheguei tinha uma suíte toda arrumadinha me esperando, e depois de um banho quente, jantarzão com direito a comidinha local: uma lingüiça de frango com queijo, típica alemã.

A casa do cara é super legal, toda construída por ele mesmo, das paredes aos móveis. Os móveis e a iluminação da casa são daquelas coisas de revista de decoração, mas tudo feito com madeiras velhas reutilizadas, bambu, e reciclando materiais. A espriguiçadeira é uma cama velha reformada, o botijão fica escondido atrás de uma prateleira bonitona no canto da sala, a água é aquecida por um aquecedor solar feito com garrafa PET, cano de PVC e caixas de isopor. Tirei várias idéias para o futuro...

Aliás, nessa viagem tenho conhecido muitas casas legais, e estou aprendendo muito para construir minha casa no futuro. É impressionante o que cada um vai criando para fazer seus lares de um jeito próprio.

Hoje conheci bobinhas, debaixo de chuvinha constante, e acabei adiando minha ida para balneário Camboriú por conta do mau-humor de São Pedro.

Cá estou, aprendendo a cada dia, conhecendo pessoas interessantíssimas e vivendo cada dia de uma vez. Ô oportunidade maravilhosa, essa viagem!

Um beijão pra tooodo mundo!

Rumo ao Rainbow!!!

12 comentários:

  1. marquito e revolução dos baldinhos!! que fofo!! ahaha ri um monte!! as meninas da chico mendes sao muito fofas, rola um rap da revolução, eh otimo. ahh bici que lindo, buena onda =)

    ResponderExcluir
  2. vi sobre os baldinhso no youtube, muito legal ...

    e vamos parando de trapacear, haaaan : )

    bicicleta fico muito feliz em dizer a alguém que sou sua amiga. ao ler seus posts noto que a troca e sua (r)evolução de forma simples e sincera como deve ser tá rolando.

    saudades. parabéns atrasado.
    ah nunca mais caí de bike hehe

    ResponderExcluir
  3. tu vens...tu vens... eu ja escuto os teus sinais...!

    na verdade, voce flui e eu to indo nessa sua brisa!

    ResponderExcluir
  4. E verdade Joana, o Leonardo e uma pessoinha iluminada, ele pedala, e a gente que sente uma brisa refrescante com a presença dele, qdo vai embora ficamos com vontade de quero mais:).Quem irá hospeda-lo, pode se preparar para conhecer uma pessoa reamente incrivél e extraordinária.

    ResponderExcluir
  5. Oi Leonardo,
    Gracinha e eu estamos acompanhando com grande interesse a sua aventura. Impressionante a facilidade que você tem em fazer um montão de amigos pela estrada. Imaginamos a experiência que você está adquirindo a cada dia. Super interessantes as fotos. Parabéns atrasado pelo aniversário. Deus te proteja.
    Um abraço,
    Jader

    ResponderExcluir
  6. Bici, querido.
    Estou de olho em vc, e adorando a sua carona.
    Obrigada.

    ResponderExcluir
  7. Mto bom te acompanhar!

    Me bateu mts saudades de vc em Olinda!

    ResponderExcluir
  8. Bici! Fico entrando aqui toda semana pra ver se tem post novo!

    a galera ai de cima tá na mesma vibe que eu, curtindo muito tudo isso aqui!

    outro dia liguei pro preah e ele mandou eu ligar outra hora pq tava lendo seu blog! hahahahaha


    beijos queridão

    ResponderExcluir
  9. Léo, tudo muito lindo!!! Vontade de conversar com você e não de de escrever. hehe
    Vamos começar pela casinha de madeira de Floripa... Coisa mais linda do muunundo! Quero uma!
    E a revolução dos baldinhos!?!?!?!?!?! A Marina já havia me faldado deles. Ela conheceu esse trabalho no Slow Food... Que lindo!
    Quantas oportunidades maravilhosas!!! Você merece.
    Continue a pedalar.
    Beijos

    ResponderExcluir
  10. Ô seu bici, vc não me contou que tem um nome mais bonito do que Léo...Biciqueta to babando....bão dimais, nossinhora...beijo. vai pela sombra que tá indo bem. beiju, até um dia, que esse dia aconteça!

    ResponderExcluir
  11. O chileno te deixou no chinelo hein bike!
    raaaaaaaaa

    Soza

    ResponderExcluir