sábado, 25 de junho de 2011

Chegando a Uyuni!

Cá estou eu novamente, diretamente de Uyuni, na beiradinha do maior salar do mundo!

O trajeto da fronteira até aqui foi lindo, mas bem penoso.

Fiquei em Villazon, a cidade da fronteira, por 2 dias, ajeitando algumas coisinhas na bike, comprando comida e correndo atrás de novas pernas para minha calça, já que tinha perdido uma das pernas (é daquelas calças-bermudas, que dá pra tirar as pernas por um zíper) em Humahuaca. A maior dificuldade era encontrar um tecido semelhante ao da calça pra comprar. Depois de rodar a cidade toda, acabei conseguindo um pedaço de um tecido bom em uma loja de coisas de segunda mão. Com os zíperes e todo o resto comprado, consegui um costureiro pra fazer-me novas pernas! Agora a calça é bicolor, lançando moda na Bolívia!

Pias com a torneira fechada a chave no mercado de Villazon

Também aproveitei o tempo na cidade para finalmente fazer algo com um monte de lã que tinha encontrado na beira da estrada há quase um mês. Fiz uma espécie de pantufas pra dormir com os pés quentinhos. Já foram testados e estão aprovadíssimos! Pés quentinhos nesse frio é importante!

Com as pernas prontas, a bicicleta ajeitadinha e os alforjes cheios de comida, peguei a estrada para Tupiza. No começo estava tranquilinho, mas depois de algum tempo o vento contra ficou mais forte, o que me fazia seguir lentamente...

No meio do caminho, conheci Coni, uma Alemã que veio da Costa Rica até a Argentina em uma moto de 100 cc, com um mochilão amarrado na garupa. Uma grande viagem, que estava acabando naquele dia. Quando chegasse em Tupiza, venderia a moto a um australiano que seguiria viajando com ela. Combinamos de nos encontrar em Tupiza, passei o nome do albergue em que Matt, meu amigo americano, estava e seguimos viagem, cada um no seu ritmo.

Cada um no seu ritmo, mas todos na estrada...


Nos últimos 30km, a estrada entrava em um vale lindo, com montanhas escarpadas e coloridas dos dois lados da estrada. Chegando mais perto de tupiza, o vale foi ficando mais estreito até chegar a este ponto:



Vendo de longe, não estava entendendo por onde a estrada ia seguir, até chegar perto e ver a entrada do túnel, recortado na pedra bruta ao lado do rio. Tunelzinho pitoresco, em meio a um vale lindo. Depois do túnel, o vale abria um pouco mais e uns 15km adiante já estava Tupiza. Nessa hora passou por mim o trem, vindo da fronteira e subindo em direção a Uyuni e Oruro. Cheguei em Tupiza no finalzinho do dia e, quando cheguei à pousada, Matt e Coni já estavam me esperando para irmos jantar.

Em Tupiza, finalmente consegui colocar no correio um presentinho para Sofia, minha linda sobrinha, que tinha comprado em Salta, na Argentina! A cidadezinha era bem simpática, mas bem turística. Alguém na cidade teve a idéia de abrir um restaurante italiano (pasta & pizza) para agradar a turistada, deu certo, todos os vizinhos seguiram a onda e hoje são uns 15 restaurantes com exatamente o mesmo menu inexpressivo e caro. Mas sempre dá pra encontrar os lugares aonde as pessoas do lugar comem, e aí sim vale a pena: barato, com comidas típicas (carne de lhama, chuño (uma batata que é congelada nas geadas do altiplano, então encolhe e fica preta, aí então é cozida), mote (um milho grandão cozido), arroz, e muitos molhos picantes. E sem falar nas sopas temperadíssimas das mamitas bolivianas.

Todos esticamos a estada em Tupiza mais um dia para ir à feira do milho, ou Feria Del Maíz. Uma feira para valorizar o trabalho dos agricultores que preservam as centenas de variedades de milho que se cultivam por aqui e estimular esse trabalho. E também uma ótima oportunidade para conhecer vários pratos típicos preparados com milho, além de várias bebidas bem diferentes.







Depois da feria, à tarde fui com a alemã fazer um passeio à cavalo por um cânion nos arredores da cidade. Lindo trajeto, e uma mudança de meio de transporte bem interessante...



No dia seguinte, Coni seguiu de ônibus para a Argentina, o australiano que comprou a moto ia ficar mais alguns dias na cidade se recuperando de uma gripe e eu e Matt caímos na estrada em direção a Uyuni.

Tem certeza que a gente tem que ir pela estrada da esquerda?

Tínhamos ouvido falar que a estrada era meio ruim, e que teríamos muita subida pela frente, mas ninguém tinha falado nada sobre o vento. E os ventos que encaramos nessa estrada eram inacreditáveis. Nunca tinha visto nada parecido com aquilo, quando vinha uma perna de vento forte, ele simplesmente te fazia parar, era como se alguém te puxasse pra trás...


Olha o vento aí!!!
Muito vento!!!

Uipala, a bandeira andina
Subiiindo!

Não me pergunte porque, mas a estrada sempre seguia pelo topo das montanhas...

Subiiiiindo!

No primeiro dia, depois de sofrer com muito vento e muuuita subida, o sol começou a baixar e ainda estávamos num trecho da estrada em que ela corria num topo de montanha e não dava nenhum sinal de que iria descer em momento algum. E là em cima ventava absurdamente, um vento gelado que à noite sem dúvida alguma nos faria passar muuuito frio. Começamos a nos preocupar e perguntar aos carros que passavam quanto faltava para o próximo pueblito. Ninguém sabia dizer ao certo, mas uns dois motoristas nos disseram que não estava muito longe, que logo a estrada desceria até um vale onde haveria algum abrigo. Depois de mais algum tempo, já começando a escurecer, passamos por um ônibus batido (tinha batido de frente com um outro ônibus que já tinha passado por nós descendo a ladeira). Chegamos ao mesmo tempo que um onibus novo que tinha chegado pra resgatar o pessoal, jà que o onibus batido não ia se mover dali tao cedo. Já estávamos pensando em passar a noite no ônibus batido, que seria o melhor abrigo até o momento, mas perguntando às pessoas do ônibus se havia mesmo algum pueblito por ali, uma senhorinha se compadeceu do nosso desespero, me olhou no olho e respondeu com certeza que havia sim uma vila, com uma escolinha onde poderíamos passar a noite. Teriamos que subir mais um pouquinho mas logo depois já chegaríamos a um descidao e, no fundo do vale, a vila.


Quase passamos a noite dentro do ônibus que bateu de frente com esse

Com essa resposta mais confiável, confirmada por um carro que passou logo depois, seguimos já congelando no vento frio e, depois de uma subidinha e um descidao avistamos uma casinha um pouco afastada da estrada. Não tivemos nem duvida, fomos direto para a casa, que estava trancada mas tinha um puxadinho, um quartinho provavelmente para as lhamas se abrigarem do frio, que era perfeito para a gente. Com os últimos raios de sol, pegamos tudoq eu precisaríamos nas bicicletas e entramos no nosso palácio andino, agradecendo a todos os santos, orixás e espíritos por aquela bencao.

Palácio Andino!

No dia seguinte continuamos na mesma penúria de subidas, muito vento contra e visuais lindos. Em um certo ponto eu me sentia pedalando no topo do mundo, no céu. A estrada passava por um topo de serra (pra que construir as estradas exatamente no topo da serra? Só pra nos fazer sofrer?) e podia ver ao redor as montanhas lá embaixo... cena indescritìvel.


Dormimos nessa casinha aí à direita

Dessa vez já ficamos mais precavidos quanto a um lugar para passar a noite e de olho no relevo, se a estrada ainda subia muito, se baixava até algum vale mais abrigado... quando a estrada desceu até a beira de um rio e já era o final da tarde, procuramos um par de casas e pedimos para passar a noite em algum lugar abrigado. Depois de uma conversa com uma velhinha traduzida por seu neto, porque ela só falava quechua, nada de espanhol, outra béncao: nos deixaram passar a noite numa casa onde ninguem estava morando, com uma cama e tudo. Tiramos na sorte e eu, claro, acabei perdendo e dormi no chao... mais uma vez jantamos agradecendo à providência!

Segundo Palácio Andino!

No dia seguinte finalmente tivemos um dia mais leve. Dali para a frente já pegamos algumas descidas, pouca subida e um vento bem mais tranquilo. Por volta de meio dia chegamos a Atocha, uma cidadezinha mineira encravada no meio das montanhas. Comemoramos a chegada com um almoco e decidimos ficar por ali o resto do dia.



Dormimos na casinha da esquerda
Finalmente uma descidinha!

Atocha!

O dia seguinte comecou com mais subida, mas depois de uns 20km chegamos finalmente ao Altiplano Boliviano, e tudo ficou planíssimo, mas o vento ainda castigava. No fim do dia chegamos a um pueblito na metade do caminho até Uyuni e, depois de comer um pratinho de carne de lhama com milho na única venda/restaurante do lugar, decidimos tentar ficar por ali mesmo. Perguntei à dona Modesta, dona da vendinha, se havia algum lugar onde pudéssemos passar a noite e, mais uma vez, conseguimos um palácio. Ela mesma tinha um quartinho do outro lado da rua (única rua do lugar, que era a própria estrada), com direito a uma cama e alguns couros de lhama pra forrar o chao.

Obrigado, dona Modesta!


Caiçara fazendo charme pra não subir a ladeira

Nessa vilazinha assisti (e fotografei, claro) um dos por-do-sol mais lindos da minha vida, com o sol iluminando uma nuvem enorme e pintando todo o altiplano de amarelo, laranja, vermelho e mais uma infinidade de cores que um mero daltônico é incapaz de nomear.

No dia seguinte, depois de um cafezinho (ô saudade do café do Brasil!) na dona Modesta, seguimos viagem por uma estrada que, apesar de continuar plana, a cada metro pedalado, piorava. Era um revezamento entre areia fofa e aquelas costeletas que fazem a bicicleta ficar quicando, maltratando o pobre pedalador e a guerreira Caicara. A estrada era tao ruim que ao lado já existiam vários caminhos paralelos abertos pelos jeeps que preferiam rodar fora da estrada. na maior parte do tempo era melhor ir pedalando por esses caminhos, por piores que fossem.

Os caminhos do dia:





De tardinha, moído pela estrada, avistei a cidade de Uyuni ao longe. Ainda foram mais 10km intermináveis até entrar na cidade e parar na primeira barraquinha de comida para uma porcaozinha de carne de lhama com milho e batata. Depois de nos alojarmos em um albergue, eu, Matt e Clement, um francês que estava acabando sua viagem de bike aqui, depois de subir desde o ushuaia e passar pelo sudoeste da bolìvia e o salar, fomos rodar pela cidade vendo as festas do dia de são joao, 23 de junho. Várias fogueiras na rua, umas bebidas estranhas (aqui se bebe leite com álcool!) e fogos de artifício.

Descobri que na Franca também se comemora são joao, com uma semana de festas, com torneios de carregar toras de madeira e outras provas físicas, e muita comida típica. Contei um pouco da nossa festa junina e do são joao no nordeste.

No dia seguinte recebi um email abencoado, dos meus pais dizendo que virao me encontrar aqui na bolìvia!!! Já estavam com passagem comprada e tudo, entao ontem e hoje corri atrás de ajeitar a estada deles na bolìvia, e hoje à noite devo ir para sucre de ônibus, para passar uns dias por lá trabalhando no projeto final e esperando a chegada deles. Não vejo a hora!

5 comentários:

  1. Cara, acompanho sempre teu blog e tua viagem! Muito massa meu! Eu tb faço cicloturismo e tenho planos de viajar pelos Andes fim do ano!
    Boa sorte meu amigo

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  2. Muito maneiro bike!! As fotos estão muito bonitas e suas narrações cada vez mais emocionantes!! Força mlk!!

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  3. Eta, Leo, cada dia melhor que o anterior! Poxa, cada foto de fazer inveja!

    Grande abraço do Antigão!

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  4. Que viagem!
    Parabéns!
    Fotos lindas e seu relato muito interessante.
    Grande abraço!

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