terça-feira, 21 de junho de 2011

Bolívia!!!

Como ia dizendo na última postagem (alguem tem um nome melhor pra isso?), no dia seguinte o casal seguiu ladeira acima em direção ao passo de Sico, para o Chile e de lá vão fazer o caminho que eu pretendia, passando pelas lagunas e montanhas do sudoeste da Bolívia. Eu e Matt pegamos a estrada rumo a Jujuy, por uma estradinha que em algumas partes mais parecia uma ciclovia de tão estreita. A estrada passava por uma serra, cercada de verde, sem trânsito algum... uma delícia! No meio dessa estrada encontramos Cath, australiana, e Sheryl, neo-zelandesa, também indo em direção a Jujuy, então nosso bonde cresceu.



A estrada-ciclovia. a faixa é da largura de duas bicicletas....





Nesse dia acampamos num camping municipal (quase toda cidadezinha por aqui tem um) ao lado de uma represa. No dia seguinte pegamos a estrada e rapidinho chegamos a San Salvador de Jujuy, capital da província de Jujuy (esses argentinos não têm a menor criatividade) (ok, ok, nem os cariocas, nem os paulistas, mas aqui todas as províncias têm o mesmo nome da capital...

A árvore que nos acolheu no camping municipal



Enquanto o pessoal descansava na praça principal e dava uma olhada no mapinha da cidade, eu liguei pro Sergio, mais uma boa alma do couch surfing, para ver se ainda estava de pé a oferta de hospedagem. Mesmo chegando duas semanas depois do combinado e com 4 pessoas ao invés de uma só, o camarada nos abrigou a todos em seu apartamento com belas pinturas nas paredes.



Depois de deixar as bikes abrigadas na casa dos pais do Sergio, passamos no mercado e fomos fazer um almoção glorioso na casa dele. Assumi a cozinha e fiz arroz do jeito certo (só brasileiro sabe fazer arroz), um refogado de berinjela, cebola, cenoura e tomate, esquentamos um feijão preto que milagrosamente o Sergio tinha na geladeira e Sheryl fez a salada. Esse almoço foi um momento sublime! Nos empanturramos e no final, pra fechar com chave de ouro, tomamos um cafezinho... me senti de volta ao Brasil com um almoço de verdade como há muito tempo não comia.



Só para entenderem porque esse apreço todo pelo almoço: quando estou pedalando quase nunca almoço, vou comendo frutas, biscoito, castanhas, sanduíche, comendo várias vezes ao longo do dia coisas leves, e à noite como uma refeição mais consistente. E como só carrego uma panela, é tudo preparado junto, e não essa fartura toda. Além disso, aqui na Argentina almoço e jantar geralmente é um pedaço de carne e mais um acompanhamento, geralmente ou purê ou salada. Para alguém acostumado com as fartas refeições brasileiras e que gosta de comer tanto quanto eu, dá saudade de um almoção parrudo.



Enfim, voltando a Jujuy, o resto do dia foi dedicado a algumas comprinhas (de comida, claro) e aconhecer a sede da Tupac Amaru, uma organização social sobre a qual tinham me falado e que queria visitar para meu projeto final. Como cheguei no final da tarde, combinei de voltar na manhã seguinte para ir conhecer as cooperativas e o bairro construído por eles.



À noite fizemos mais um banquete na casa do Sérgio, dessa vez preparado pelas meninas. Pimentão recheado com legumes, carne moída e arroz. Delicioso.

Na manhã seguinte Matt e as meninas caíram na estrada e foram conhecer um lugar com águas termais no caminho para a fronteira com a Bolívia e eu fui ao tal bairro da Tupac Amaru. O lugar era impressionante! Enorme, com milhares de casas, uma área de lazer gigante, posto de saúde, escolas, uma fábrica de blocos de cimento para a construção das casas, outra de móveis escolares, uma metalúrgia, uma fábrica têxtil, todas cooperativas, e tudo isso construído a base de muita luta, mutirões e pressão sobre o governo para liberar verba. Para o projeto visitei a cooperativa têxtil e a fábrica de blocos.


Depois do almoço peguei a estrada, fui até Yala e fiquei hospedado numa casa bem legal, mistura de camping, albergue e república, chamada La Boheme. Obrigado, Juanjo!






No dia seguinte começou a subida de verdade. De 1.444m em Yala fui até 2.094, em Purmamarca. Subidinha forte, mas recompensada com a visão da Montaña de Siete Colores ao fim do dia. Purmamarca é um pueblito charmoso que tem o privilégio de estar ao pé dessa obra de arte da natureza e por isso é beem turísitico.

Eu tava subindo desde láááa de baixo


Viu, é mais seguro viajar de bicicleta do que de trem...





A fumacinha lá no fundo é o vento levantando a poeira do chao. vento contra na subida dos Andes...




La montaña de siete colores








Em Purmamarca passei pelo momento de maior aflição e até um certo desespero, da viagem, mas tudo se resolveu e acabou bem. Quando estava procurando um camping para passar a noite, um sujeito me ofereceu para acampar num terreno em frente à casa dele por 5 pesos. Como nos dois campings em que tinha estado não tinha ninguém e o terreno era simpático, com um montão de lenha seca, resolvi aceitar. À noite, enquanto estava cozinhando e jantando, a bicicleta estava encostada numa árvore a uns 20 metros de mim, à vista mas nem tanto, já que estava escuro. Quando acabei de comer e fui guardar algumas coisas na bicicleta, notei que haviam mexido na bolsa em que levo a máquina fotográfica. Quando peguei a bolsa, ela estava leve, sem nada dentro. Me desesperei, alguém tinha passado ali enquanto eu jantava e roubado minha tão preciosa máquina. Depois de tanto tempo juntando dinheiro para comprar e pesquisando qual a melhor máquina para mim, tinha deixado ela ir embora assim tão fácil.



Falei com o dono do terreno, procuramos ali em volta e desci para a polícia. Registrei a ocorrência, voltei ao lugar com a polícia, mas eles disseram que àquela hora não poderiam entrar na casa do sujeito (nesse momento já estava começando a desconfiar do próprio cara) e que voltariam na manhã seguinte para conversar com ele. Me alojei no albergue mais barato da cidade e na manhã seguinte, depois de ir à polícia e ouvir que ninguém tinha visto nada e que não havia mais nada o que fazer, comecei uma odisséia para encontrar a máquina. Fui à rádio da cidade, expliquei o ocorrido e a cada meia hora o cara da rádio anunciava o que tinha acontecido e pedia para quem tivesse alguma informação avisar.



O pessoal da pousada, que abraçou minha causa, me disse que o sujeito que me ofereceu o terreno e o amigo dele eram de outra cidade e que já haviam roubado outras pessoas, então provavelmente tinham sido eles mesmos. Eu também já estava desconfiado disso porque se mais alguém tivesse passado pela bicicleta eu teria visto. Então voltei ao lugar onde tinha sido roubado e conversei com os caras, expliquei que não era um gringo cheio de grana, que tinha trabalhado muito para conseguir comprar a máquina, que não teria condições de comprar outra, que era fotógrafo e era uma ferramenta de trabalho, e por fim que estava disposto a pagar uma recompensa a quem encontrasse a máquina, então que eles por favor me ajudassem a procurar.



Depois de mais duas visitinhas, conversas com vizinhos, idas à rádio, no final da tarde um dos sujeitos veio me procurar dizendo que tinham encontrado a máquina dentro do chiqueiro que ficava ao lado de onde estava a Caiçara. Esses porcos são mesmo muito inteligentes: conseguem abrir um zíper, tirar a máquina, fechar o zíper e guardar a máquina no chiqueiro até o dia seguinte sem nem sujar ela de lama!



Mas enfim, acabei “comprando” a máquina de volta dos próprios ladrões com a tal recompensa, que me saiu cem reais. Aliviado, voltei para a pousadinha com minha preciosa. Muuuito obrigado ao pessoal da pousada Mama Coca e ao cara da rádio, cujo nome eu esqueci.



Pra nao ficar a má impressao de Purmamarca, aí vao algumas fotinhas da tal montanha de siete colores, destaque do lugar...




Esculturas naturais






Aproveitei o resto do dia pra finalmente pendurar uma bandeirinha do Brasil na bike, com um bambu que catei na estrada e ajeitar algumas coisas que estavam pendentes...




Cruzando novamente o trópico de Capricórnio. A primeira vez tinha sido em Ubatuba, SP, na primeira semana da viagem... 4 meses e uns 5mil km depois, volto aos trópicos!


No dia seguinte peguei a estrada morro acima, e dos 2.094 de Purmamarca, subi até 2.936 , em Humahuaca. Dia puxado, de manhã com vento contra e à tarde com vento a favor, e já sentindo o efeito da altitude. Da metade do caminho pra frente já me cansava muito mais rápido e tinha que parar várias vezes para tomar fôlego. Marcha mais leve, concentração na respiração e muita calma.




Olha a Bolívia comecando a dar as caras!!





Chegando em Humahuaca, cidadezinha super charmosa, toda antiguinha, conheci um casal de Argentinos também viajando em bicicleta. Tinham ido até a fronteira com a bolívia e voltado, e me disseram que viram Matt e as meninas uns 20km depois dali. Todo mundo que eu conhecia que estava vindo do lado de lá perguntava se tinha visto três gringos de bicicleta, e sempre conseguia saber mais ou menos onde eles estavam. Conheci também dois irmãos brasileiros viajando por aqui. Já havia um tempo que não encontrava nenhum brasileiro, mas acho que agora com a bandeirinha fica mais fácil.





Dormi num posto de gasolina do Automóvel Club Argentino, que sempre tem um espacinho nos fundos onde deixam viajantes acamparem de graça. Obrigado!



No dia seguitne, mais um dia de subida forte, e agora sentindo muito os efeitos da altitude. Muitas paradas, muita respiração, muita água, muita calma e pouquíssimos quilômetros... Normalmente faço uns 80 a 100km por dia, na subida de Purmamarca para Humahuaca, já com altitude, 64, mas nesse dia, só 37 e já estava pedindo arrego. Pretendia subir até Três Cruces, a 3.693, e a partir dali seria um descidão e depois plano, mas quando cheguei a Azul Pampa, a três mil quatrocentos e pouco já dei por encerrado o dia e parei por ali mesmo. Pelo mapa achei que seria um pueblozinho pequeno, mas na verdade era só uma escola e mais umas três casas em volta. O gente boa que toma conta da escola me ofereceu para eu dormir dentro do invernadeiro, uma casinha com teto de lona transparente, tipo estufa, que faz ela ficar quentinha. Ótimo abrigo, fogueirinha pra cozinhar e esquentar, e uma lua quase cheia, já iluminando tudo, cercada de milhões de estrelas. Ô sorte!



Cozinhando em Azul Pampa




Na manhã seguinte tive um sinal de que dali pra frente o frio ia ficar feio. Quando acordei, as garrafas de água tinham uns pedacinhos de gelo... não estavam congeladas, mas tinham gelinhos. Acabei voltando a Humahuaca de ônibus, porque percebi que havia esquecido as pernas da minha calça-bermuda... acabei encontrando uma só e agora tenho uma calça perneta! Voltei a Azul Pampa de carona com um casal cordobês e caí na estrada. A subida até o topo da estrada, a 3.780m até que foi tranqüila, mas a tal Três Cruces era só um posto da polícia e o alojamento de uma mina. Ainda bem que fiquei em Azul Pampa, muito mais simpático. Por aqui rolam várias minas, já que os Andes são riquíssimos em vários minerais. Daqui se extrai ouro, prata, estanho e todo tipo de minério em minas a céu aberto, uma grande polêmica...



Gelinhos....



Muitos gelinhos!!!!




La Puente del Diablo



Um pouquinho depois de Três Cruces, o ponto mais alto da estrada, e ao lado a tão aguardada placa avisando que depois de tanta subida, finalmente vinha uma descidinha...




Pedalei até Abra Pampa, cidade não muito simpática, que tinha um cartaz dizendo: a Sibéria argentina! E pelas ruas, mesmo no fim de um dia quente, ainda tinham algumas poças d’água congeladas. Eu é que não acampo num lugar desses!!! Depois de procurar pelos hotéis e pousadas, todos muito caros, vi um ginásio coberto e resolvi pedir pra dormir ali dentro. Quando perguntei a um cara que estava assistindo a um jogo de futebol no campo ao lado, ele disse que não sabia quem era o responsável, mas que a igreja tinha uns alojamentos baratinhos. Me levou até a igreja, mas a pessoa responsável também estava, então ele me ofereceu para dormir numa casa que ele tinha e só usava para guardar a moto. Bendita alma! Passei uma noite quentinha e, só pra testar, deixei uma garrafa do lado de fora e outra do lado de dentro da casa. A de dentro, normal, a de fora completamente congelada. Até a torneira tinha uma gota de gelo na ponta...



Muuuuito obrigado, Pablo!!!


Pôr do Sol em Abra Pampa




Agora sim congelou!


Muuuito Obrigado, Pablo! Notem na calca de uma perna só...
Pedalando no frrriiioo

Pé na estrada para um dia pelo qual já estava ansioso há tempos. Finalmente chegaria à Bolívia! Pedalei forte o dia todo para chegar logo (ou tão forte quanto a altitude me permite) e de tardinha cheguei a La Quiaca, a cidade da fronteira do lado argentino. Parei em uma internet para ver aonde Matt estava e atravessei a fronteira.


Até hoje as Malvinas sao argentinas nos mapas argentinos. Briga por território e petróleo.


Finalmente a Fronteira!




Momento emocionante! Depois de mais de dois meses na Argentina, finalmente entrava na Bolívia. É só cruzar a fronteira que já se vê a diferença gritante de um país e outro. Do lado boliviano, muito mais gente na rua, mais cores, mais movimento, mais confusão... me sentia mais em casa, de alguma forma. Adorei a Argentina, gostei muito mesmo, mas confesso que me senti muito mais em casa do lado de cá da fronteira. Várias comidas de rua, mais sabores, camelôs, lojinhas que vendem de tudo apinhadas de produtos até o teto... a Bolívia é ótima...



Neste momento estou em Uyuni, na beiradinha do Salar. E feliz da vida de ter chegado até aqui! Os cinco últimos dias de viagem foram sem dúvida alguma os mais difíceis até agora. Subidas infinitas, estrada de terra, mais de 4mil metros de altitude e muito, mas muuuuito vento contra. os ventos mais fortes que já vi na vida. Em cinco dias fizemos apenas 200km, o que faria em dois dias normalmente. Mas conseguimos ótimos lugares pra dormir todas as noites, e o visual era lindíssimo!



Hoje à noite vou atualizar aqui mostrando esse trecho penoso...



E agora hà pouco recebi um email maravilhoso, dos meus pais dizendo que virao me encontrar na Bolívia e conhecer o Salar!!! ô dia feliz!





Beijos!

2 comentários:

  1. amigo poser mais lindo do mundo!
    estou emocionada: pumamarca, humauaca e bolivia no mesmo post!!!!
    caracoles!
    que saudade incrivel, numa mescla de que orgulho incrivel.
    Apesar da saudade que as vezes me aperta: VA EM FRENTE!

    mal posso esperar pelo nosso encontro. muito encontrados nos somos!

    BOLIVIA CAMBIA!
    CON POLLOS Y PAPAS!


    beijos da Joana, o blogspot nao deixa mais comentar quem nao tem blog : (

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  2. Nossa mil coisas, de tirar o folego, use uma pochete, para guardar a camera e os obetos de valor, sempre perto de vc, entrei aqui pra pegar o numero da sua conta BB, saca por ai? outra coisa? Abração grande

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