terça-feira, 14 de junho de 2011

Subiiiiiindo o tal dos Andes...

Bom dia amigos,



Antes de ontem finalmente cruzei a fronteira com a Bolívia, e hoje estou em Villazon, a cidade da fronteira, ajeitando algumas coisas antes de seguir viagem em direção ao Salar de Uyuni, se tudo der certo, agora a tarde. Como aconteceu muita coisa desde a ùltima vez que atualizei o blog, e tem muuuita foto bonita, vou dividir em duas parcelas, e aí vai a primeira.
E foi assim que eu cheguei até aqui...



Eu fiquei em Catamarca por uma semana ajudando um amigo colombiano, Anderson, a montar uma bicicleta pra também ter um veículo para cair na estrada. Tínhamos nos conhecido em Missiones, no Rainbow, nos encontramos de novo em San Marco Sierras, em Córdoba, e ele se animou a viajar de bike. Quando cheguei em Catamarca, ele tinha acabado de comprar uma bicicleta velha de um senhorzinho vizinho do camping onde estávamos. A bicicleta estava parada há 30 anos, então tivemos de desmontar ela toda, limpar as peças, botar óleo em tudo e remontar...



A bicicletinha estava bem sujinha, mas tava em bom estado e ficou linda depois de pronta...
Depois de um árduo trabalho de restauração e algumas várias gambiarras pra pendurar as coisas na bike, saímos do camping animados pra pegar a estrada e seguir para Andalgalá, uma cidade perto de catamarca, subindo a serra... mas não chegamos nem a sair da cidade, tivemos um problemina com a bike do Anderson e tivemos que ficar mais um dia na cidade para soldar uma peça. Aproveitamos pra mudar algumas coisas e acomodar melhor a bagagem dele, e no outro dia a bici já estava com mais cara de viajante, e aí sim caímos na estrada. Com a missão de botar La Serenissima na estrada cumprida, segui meu caminho rumo ao norte, enquanto Anderson seguia para Andalgalá...

Estou sem as fotos da reforma da bicicleta e da nossa saìda aqui, depois coloco.




No primeiro dia fui de catamarca até Palo Labrado, uma cidadezinha um par de quilômetros mais adiante, em um camping de 3 pesos (R$ 1,50). No dia seguinte cruzei a divisa entre as províncias de Catamarca e Tucumán, no alto de uma serrinha que me deu de presente uns 20 km de descida. Fui até Villa Belgrano, em Tucumán, e montei a barraca no quintal de Juan Decima, com quem bati um longo papo depois de um jantarzão delicioso. Um abração para ele e Fran, seu neto.



No dia seguinte saí da estrada principal que levava para a cidade de Tucumán e fui até o pé da serra, onde começava a subida para Tafí del Valle, por onde passaria rumo a Salta. Dei uma baixa num pé de tangerina na beira da estrada e fui até o comecinho da subida. Pedi para colocar a barraca ao lado de posto do departamento de estradas e o guarda me deixou dormir na cozinha, mais quentinha e menos trabalhosa. Pra compensar fiz o jantar, usando até um xuxu do quintal do posto. No dia seguinte ainda ganhei um monte de limões e laranjas.



Segui viagem a base de limonada e passei o dia subindo de 700m para 2 mil metros de altitude. A estrada era linda, me lembrou muito a Serra do Rio do Rastro, em SC, pq também era uma estradinha serpenteando numa beirada de serra.

El Indio


Ô estradinha bonita...



Serpenteando pelas montanhas

No final da subida, finalmente a estrada fica mais plana, e o visual muda completamente


Ovelhinhas...


No fim do dia cheguei ao platô onde estão La Angostura, El Mollar e Tafí Del Valle, três cidadezinhas em volta de um lago em meio às montanhas.


Assim que a subida acabou, parei num posto de gasolina pra dar uma descansada e comprar algo pra comer numa lojinha de produtos regionais (salame, queijo, essas coisas...). Diego, o cara que trabalhava na lojinha, se animou com a viagem, comprou duas fotos minhas (sim, estou vendendo fotos!) e me ofereceu pra dormir no quarto que ele estava morando, ali no posto mesmo. Com o pernoite garantido, fui a Tafi Del Valle conhecer a cidade, que não era nada demais...



Diego, meu anfitriao em La Angostura. Gracias, Hermano!


No dia seguinte a manhã estava congelante e o tempo fechado, e até que eu dei conta de levantar, descongelar, tomar café e passar num mercadinho pra comprar algumas coisas, que fui começar a segunda parte da subida (de 2mil pra 3mil metros), já eram quase 13hs, então acabei decidindo ficar mais um dia ali e subir no dia seguinte, já que não sabia como ia ser essa subida e queria ter tempo de sobra para ela. Dei mais uma volta por Tafí, conheci a cidade e voltei pra La Angostura. O dia seguinte amanheceu lindo, ainda bem que esperei e, aí sim, saí cedo e parti morro acima.
A subida, pra variar, não foi tão braba quanto parecia, mas já pude sentir os efeitos da altitude pela primeira vez. Ficava sem fôlego muito fácil, então parava a cada 5 minutos pra descansar e beber uma água. O visual do vale também era de tirar o fôlego (ahn, ahn), e era mais um motivo pra parar o tempo todo. Depois da plaquinha de três mil metros lá no topo, um decidão delicioso!

Quando cheguei ao topo, nos 3mil, as primeiras lhamas da viagem apareceram!


Visual là de cima

e finalmente a descida...




Matt e o visual



No meio da decida, em uma das paradas para foto, conheci Matt, um americano que está vindo de bike do Ushuaia e subindo para os Estados Unidos. Como estávamos indo para o mesmo lado, seguimos juntos. Nesse dia dormimos em Aimacha Del Valle, a primeira cidadezinha depois da decida.
No dia seguinte visitamos as ruínas de Quilmes, uma cidade de um povo pré-inca que foi restaurada há alguns anos. O lugar era bem bonito, mas não explicavam muito a história do lugar, então acabava virando pouco mais que várias paredes pela metade. Os descendentes da civilização que construiu esse lugar está lutando pela posse das terras e preservação da sua história...








Depois das ruínas continuamos pedalando por um vale com montanhas altíssimas dos dois lados e vinhedos na beira da estrada até Cafayate, uma cidadezinha simpática famosa pelo vinho branco. Dormimos no camping mais barato da cidade e nos reabastecemos de comidas para os próximos dias.


Amanhecer em Cafayate

De Cafayate pegamos a estrada em direção a Salta, esperando que fosse só mais uma estradinha comum como outra qualquer, com os vinhedos e tal... mas uns 10km depois de sair da cidade, entramos na Quebrada de las Conchas, um dos lugares mais impressionantes que já conheci na minha vida. A estrada corre junto a um rio, num vale cercado de montanhas coloridas e esculpidas por milhões de anos de chuva, vento, gelo, sol...
O lugar era completamente indescritível, e cada curva reservava uma nova surpresa, um lugar mais impressionante que o outro... Não tenho muito como falar desse lugar, as fotos representam muito melhor a beleza das montanhas, mas só estando lá para ver a grandiosidade dessa obra de arte da natureza.














Cruzamos com um casal de chileno e japonesa viajando de bicicleta com o filho num trailer puxado por uma das bikes e com um cachorro correndo ao lado. Tinham saído do Chile há duas semanas e pretendiam ir para o Uruguai e depois Brasil. Além da carga normal e de tudo que se tem que carregar quando se viaja com uma criança, eles ainda levavam equipamento de escalada. Acho que foram as bicicletas mais carregadas que já vi na vida.
No fim da tarde chegamos ao Anfiteatro, um salão esculpido na rocha onde o formato das paredes faz o lugar ter uma acústica de fazer inveja a qualquer sala de concertos requintada.
Depois de algum tempo embasbacado com a perfeição do anfiteatro, algumas fotos e um papo com os artesãos que vendem no lugar, fomos para a Garganta Del Diablo, 500m mais adiante, uma outra construção da natureza que, como para fazer dupla com o vizinho, ao invés de uma acústica perfeita, tem eco. Na saída da garganta, eu e Matt comentamos que tínhamos que começar a procurar um lugar para acampar, já que o dia já ia acabando. Mas porque procurar algo mais pra frente se estávamos ao lado de um lugar tão perfeito quanto o anfiteatro??? Não tivemos dúvidas: voltamos para lá, esperamos os turistas irem embora e nos ajeitamos no meio do salão.





Fogo nas paredes!



Amanhecendo no Anfiteatro




Uma fogueira no centro do círculo formado pelas pedras, um jantarzão luxuoso de arroz com chorizos (uma lingüiça daqui) refogados com cebola e vários tempeirinhos, bem apimentado, música brasileira tocando naquela acústica toda..... sem dúvida um dos momentos que nunca vou esquecer na vida. E disparado o melhor lugar que já acampei.

A noite não poderia ter sido melhor, deitado ao lado do fogo, vendo a luz das chamas dançando nas paredes de pedra e as estrelas desfilando pelo céu. Ô vida boa!!
Na manhã seguinte, recolhemos tudo antes da chegada dos primeiros ônibus turísticos e, quando eles despejaram as primeiras levas de velhinhas com suas máquinas fotográficas, já estávamos tomando o café da manhã na entrada, com tudo ajeitado nas bicis.

Depois do café e várias fotos e perguntas dos turistas curiosos, caímos na estrada para nos deliciarmos por mais uns 30 km de montanhas estonteantes. Encontramos mais um casal, esse de argentinos mesmo, que depois de dois anos viajando pela América do Sul, estavam voltando para casa, em Córdoba.








No final da Quebrada, uma paradinha para um café para calentar a alma, com sanduichinho e uma torta de chocolate recheada com doce de leite. Quer mais o quê?


Continuamos na estrada até o pueblo de Coronel Moldes, onde dormimos à beira de uma represa bem grande que provavelmente abastece Salta de água e energia. Ao nosso lado no camping municipal estava um casal com a filha e o namorado. O pai, guarda de trânsito em Salta, era uma dessas pessoas que adoram um bom papo e têm prazer em compartir o que têm com quem aparecer. Ganhamos sanduiches de morcilla (uma lingüiça feita com sangue de porco, deliciosa) e passei horas conversando com o sujeito. Matt tentou pescar (ele carregar uma vara de pescar no trailer), mas sem sorte. No lugar onde estávamos o lago só tinha um palmo de profundidade e ninguém estava conseguindo pescar...


No dia seguinte chegamos a salta bem cedo, por volta do meio dia, o que é ótimo quando se está chegando a uma cidade grande. O contato que eu tinha do couch surfing não podia nos receber, estava a trabalho em Buenos Aires, então fomos para o albergue mais barato que encontramos, que por acaso também era o mais simpático. Em uma hora em Salta já tínhamos conhecido mais um cara local que já viajou meio mundo de bicicleta e desceu o Amazonas de caiaque e um casal de italiano com turca que também estava viajando de bike. Essa sem dúvida é A rota para quem está subindo ou descendo do circuito clássico de Bolívia e Peru...


O albergue era ótimo, e pra variar, ao chegar em uma cidade, depois de um bom banho quente, entrei no modo de reabastecimento e comecei a comer. Esse é um fenômeno incrível e que agora descobri que não ocorre só comigo. Matt e o casal, que acabou se mudando para o nosso albergue, também comiam sem parar, e os quatro comentando o quanto era atordoante entrar num supermercado de cidade grande, com tantas opções de comida, depois de dias passando só por cidadezinhas pequenas onde você compra o que consegue encontrar.


Pra variar não fiz a maioria das coisas que pretendia em Salta, especialmente procurar algumas coisas para a bicicleta antes de entrar na Bolívia, mas mesmo assim aproveitei bem o tempo. Fui algumas vezes ao mercado, um daqueles mercadões abertos cheios de barraquinhas onde você encontra de tudo: roupas, comidas, temperos (eu carrego uma verdadeira coleção de temperos, capaz de transformar qualquer gororoba em comida boa e apimentada), eletrônicos, açougue, frutas, verduras, coisas típicas do lugar.... só me arrependo de não ter ido ao mercado com a máquina, já que renderia lindas fotos.


Fui também a um museu bem interessante, e com um nome inusitado: Museu de Arqueologia de Alta Montanha. Juntou duas coisas que me interessam, então fui dar uma olhada. Além de fotos lindas dos picos mais altos da argentina, o museu tem em seu acervo quatro múmias encontradas em picos de montanhas sagradas a mais de 6mil metros de altitude. São crianças que foram oferecidas aos deuses pelos incas, em uma das cerimônias religiosas mais importantes de sua época. Como estavam em lugares muito frios e muito secos, os corpos, roupas e objetos se conservaram perfeitamente, e para conservá-los nas mesmas condições em que se encontravam no alto da montanha, sem se deteriorarem, o museu tem três câmaras criogênicas e todo um aparato tecnológico avançadíssimo que lhes permite estudar e expor essas múmias sem danificá-las. A quarta múmia foi retirada de uma outra montanha na década de 1920 e vendida a uma série de colecionadores até chegar ao museu, então está bem deteriorada, e é um exemplo do que a falta de cuidado e respeito com a história ocasiona.


No último dia na cidade, compramos meio cabrito no tal mercado (meio mesmo, o bicho estava congelado inteiro e o açougueiro meteu a serra, partiu ao meio e levamos a banda esquerda do cabrito) e fizemos um churrascão (ou asado, por aqui) no albergue, com direito a molho a campanha e muuita salada, já que tínhamos uma vegetariana entre nós. O resto do pessoal do albergue já devia estar de saco cheio dos nossos papos ( só falávamos de bicicletas e peculiaridades de se viajar em bicicleta, algumas bem íntimas), mas mesmo assim se juntaram ao churrasco...






Colheitas da estrada



Cabrito com berinjelas


Paolo e Pinar




Saindo do albergue em Salta


No dia seguinte o casal seguiu ladeira acima em direção ao passo de Sico, para o Chile e de lá vão fazer o caminho que eu pretendia, passando pelas lagunas e montanhas do sudoeste da Bolívia. Eu e Matt pegamos a estrada rumo a Jujuy, mas essa parte vai ficar pro próximo post, que entra no ar daqui a uns dias... (agora estou aprendendo a brincar com o blog, hehe)


Um graaande abraco!

4 comentários:

  1. Fantastico, fascinante.... e tudo oq tiver mais de adjetivos... qualquer um tem vontade de fazer algo semelhante.... e eu me incluo nessa tb...
    Parabéns...

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  2. caralho, leo, que muito foda!! parei aqui meio por acaso (acho que vi no fb) e achei sensacional - tanto os relatos, como as fotos! mesmo sbendo que vc nao vai ler isso tao cedo, haha, preciso dizer que curti demais... to vendo aqui no mapa que vc ja andou um bocado, ate... nao prometo, mas vou ver se arrumo um contato para vc em arequipa. enquanto isso, vou transmitindo pensamento positivo. boa sorte aê e divirta-se. beijos, carowl

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  3. Eita grande Leo, de tirar o folego como sempre suas aventuras deliciosas, queria estar ai na garupa :) Esse anfiteatro, com o visual do ceu, a luz do fogo nas paredes e o som, deve ter sido algo inesquecivel hein, Abração forte guerreiro.

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  4. Biiike! Suas fotos estão incríveis!
    Me divirto lendo seus relatos. Beijobeijo

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