quinta-feira, 17 de maio de 2012

A Viagem agora é no Rio...


Depois de um ano de experiências das mais diversas pelas carreteras sulamericanas, estou de volta ao Rio, um lar especial.

Na viagem, em certo momento o acesso à internet foi ficando mais difícil e eu fui gastando menos tempo com computador e mais com o mundo à minha volta, então o blog acabou ficando de lado. Mas continuei mantendo o diário escrito, retratando no papel um pouquinho do que ia vivendo. E nas fotos, um pouco do que ia vendo.

Cheguei de volta à cidade maravilhosa no dia 16 de fevereiro, logo antes do carnaval. Foram um ano e três semanas na estrada e nos pueblitos, vendo a vida em cada canto e vivendo de um tudo... A volta ao Rio, assim como a viagem, é indefinível. Alguns momentos vividos e sentimentos não encontram reflexo em palavra alguma, nem em muitas palavras. São uma soma de tantos fatores e sensações que se tornam indescritíveis.

O reencontro com minha família, meus pais, minhas irmãs, Sofia, minha primeira sobrinha, liinda e enorme, os amigos, companheiros de vida, que são minha segunda família, com a Fabiana um reencontro que foi um novo conhecer, re-conhecendo um amor que se reinventa. E, mais louco que tudo isso, re-encontrar comigo mesmo, um eu que foi e outro que ficou aqui. E o cenário dessa encontraiada toda é essa cidade linda e polêmica, confusa, com todas as incongruências e maltratos, cenas deslumbrantes e pessoas das mais diversas...

Enfim, de volta à terrinha, com muitas ideias na cabeça, muitos projetos e muito trabalho pela frente. 
Engatando aos poucos no ritmo com o qual pretendo pulsar...

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Conhecendo Choquequirao

Hola Waykis,

Antes de mais nada quero agradecer de coracao a todos que estao me ajudando através do Ulule.
em apenas seis dias já consegui arrecadar uma boa grana, que vai me ajudar muito nesses caminhos...

pra quem ainda nao deu uma olhada, o projeto agora está no Ulule, uma plataforma de Crowdfunding. Mais detalhes no link:
http://br.ulule.com/caminhos-de-bicicleta/

e voltando à viagem...

Continuando de onde parei, estava seguindo para Cachora, para de lá começar a trilha a Choquequirao. Naquele dia segui na subida por toda a tarde. No caminho ganhei vários tomates de um pessoal que estava encaixotando a colheita pra levar para vender. No fim da tarde passei pela entrada de uma estância de águas termais e resolvi acampar ali. Desci tudo o que tinha subido por uma estradinha maltratada. Subir de volta era problema pro dia seguinte. Lá embaixo encontrei o lugar se preparando pra uma festa no dia seguinte, pra estimular o turismo na região. E como o Peru não é muito diferente do Brasil, estavam pintando o lugar na véspera e deixando tudo bem maquiado pro festejo. Me assegurei de que tinha um espaço pra acampar e fui tomar um banho nas águas mornas que brotavam da parede.

O lugar estava super movimentado à noite, com direito a carros de som que só não tocavam funk porque não estávamos no Rio, então dormir foi um pouco difícil. Mas já que não dava pra dormir, nada melhor que um mergulho noturno nas tais águas calientes. No dia seguinte aproveitei um caminhão que estava trazendo coisas para os preparativos da festa e peguei uma carona de volta para a estrada, o que me salvou de uma subidinha penosa. Mas de qualquer maneira foi uma tarde toda de subidas até Curahuasi, a próxima cidade. Lá chegando encontrei na rua um alemão que havia conhecido no dia anterior nas águas termais e de quebra ganhei um banho, jantar, internet e dica de um bom lugar pra acampar sem pagar nada.

O tal lugar parecia ser bem legal mesmo, com umas piscinas naturais, banheiro e tudo. Então me acomodei e, enquanto estava lendo um livro e escutando música na barraca, chegaram os donos das outras barracas que estavam perto perguntando se não tinha visto ninguém passando por ali. Enquanto eu já estava lá alguém tinha aberto as barracas dos caras e levado algumas coisas de valor. Fiquei impressionado de não ter percebido nada e nem ter sido molestado. Mas depois daquela situação não me animei a continuar no lugar sozinho (os outros recolheram o que sobrou e estavam indo embora) então arrumei tudo na bike outra vez em tempo recorde e me mandei prum albergue baratinho na cidade.

No dia seguinte aproveitei que era domingo de feira na cidade e fiz o estoque de comida para os dias de trilha que estavam por vir e resolvi esperar naquela cidade por Matt, um amigo americano com quem tinha pedalado pela argentina e Bolívia e que ia me acompanhar a choquequirao. No fim da tarde nos encontramos por acaso na rua (a cidade não era tããão grande).

Saímos na manhã seguinte para mais um dia de subida até perto do abra, (o passo de montanha a partir de onde a estrada desce outra vez) onde nos desviamos da estrada para entrar para Cachora, onde deixaríamos as bicicletas para caminhar por uns dias. Até o pueblito era um descidão de mais de uma hora em estrada de terra, interrompido por um pneu furado. Chegamos na praça no meio de uma assembléia geral pra discutir os problemas da cidade, eleger pessoas para alguns cargos... democracia na praça!



Rapidinho conseguimos um cara pra nos alugar uma mula, já que íamos caminhar por 5 dias e não tínhamos mochilas pra levar as coisas. E de quebra o cara ainda nos emprestou um quarto para dormirmos. Enquanto nos alojávamos o céu abriu e nos brindou com uma vista incrível do Salkantay, a montanha mais alta da região, com 6.247m de altitude. Desfilava toda sua imponência bem em frente ao pueblo, do outro lado do vale. Preparamos um jantar reforçado e luxuoso e já deixamos as coisas prontas para sair cedo no dia seguinte.

O dia amanheceu chuvoso e saímos um pouco tarde, rezando pro tempo abrir nos próximos dias. A mudança das bicicletas para uma égua era muito engraçada, isso é que é querer viajar devagar! Ao longo do dia Fomos pegando o jeito de como fazer a menina andar e a caminhada passou a render mais.



O caminho era parte dos antigos caminhos incas, estradas que percorriam todo o antigo império, conectando as diversas partes. E para vencer as montanhas verticais dos Andes, esses caminhos vão fazendo um zigue-zague pelas encostas, deixando um desenho bem peculiar.








Andamos o dia todo, primeiro numa subidinha leve, depois um verdadeiro mergulho até o rio Apurímac e, depois de cruzá-lo, uma subida brutal, que depois de já termos caminhado mais de 20km, era sofrida. Paramos para dormir num lugar indicado pelo dono da égua, que convenientemente era a primeira casa na subida. A casa era de dona Eufênia, uma senhorinha com jeitinho de avó, que me contou a história do lugar. Essa região era bem isolada, sem ninguém morando entre essa encosta em que estávamos e Cachoras (hoje em dia já existem uns 4 ou 5 campings no caminho para atender aos turistas). Ali morava apenas uma família de camponeses, os parentes de dona Eufênia.

Um dia, caminhando pelas montanhas, o avô dela encontrou o que pareciam ser algumas ruínas. E assim foi descoberta a cidade perdida de Choquequirao. E hoje quem cuida do parque e das escavações é o INC, Instituto Nacional de Cultura do Peru. E a grana dos ingressos, de 39 soles (ou 19 para estudantes) supostamente vai para os trabalhos de escavação e pesquisa da história do lugar.

Comparando à sua irmã famosa, Machu Picchu, que está a menos de 100km dali, a história é um pouco distinta. Machu Picchu foi supostamente descoberta por Hiram Bingham, um explorador norte-americano que foi levado ao lugar por pessoas que viviam lá. O governo peruano, numa dessas negociatas tão familiares a qualquer país sudamericano deu uma concessão de sua principal relíquia histórica e ponto turístico mais famoso do país a uma empresa inglesa por décadas. E hoje essa empresa, agora com participação chilena (inimigos históricos dos peruanos), cobra 100 DÓLARES por um trem de 3hs de Cusco até Águas Calientes, 15 doláres por um ônibus de 15minutos até o parque e 50 dólares pela entrada.

Ou seja: 165 dólares que vão diretamente para o extrangeiro. Para fugir desse preço absurdo a forma que quem não tem tanta grana encontra é pegar dois ônibus e um taxi de Cusco até uma hidroelétrica e de lá caminhar ao lado da linha do trem por todo o dia para chegar a águas calientes e de lá subir caminhando por cerca de uma hora para escapar do ônibuzinho de 15 dólares. Isso tudo porque há pressões fortes (de quem será?) para que não se construam estradas até águas calientes.

Enfim, Choquequirao pode ser uma oportunidade de se construir outra realidade para o turismo aqui no Peru.

Voltando às montanhas, acampamos aí na casa de dona Eufênia e à noite começou uma chuva que durou o dia seguinte todo. Esperamos para ver se passava, mas como tinha cara de que ia durar o dia todo saímos debaixo de chuva mesmo para terminar a subida até Marampata, uma vila já pertinho da entrada do parque, onde acampamos no quintal do irmão de dona Eufênia. Ali além dele estão alguns sobrinhos que já haviam saído para morar em cidades e voltaram quando o turismo começou a movimentar alguma grana na terra de seus pais.



O tempo estava tão feio que nem cogitamos ir a Choquequirao, passamos o dia todo ali rezando para o tempo abrir no dia seguinte.



E abriu. Quando acordei o dia estava amanhecendo, abri a barraca, botei a cara pra fora e vi um céu azulzinho, sem uma nuvem sequer. Gracias a la pachamama por esse dia. Tomamos nosso café e fomos conhecer a tal Choquequirao.



O lugar era simplesmente incrível. A praça principal fica no topo de uma montanha que está na beiradinha do vale. Lá de cima você pode ver o rio correndo uns 1000m mais abaixo, cercado por aquelas montanhas monstruosas. Perto da praça há algumas ruínas de casas que vão subindo pela cumeeira das montanhas e muuitos andenes nas encostas. Se estima que apenas 30% das ruínas foram descobertas até o momento. É incrível imaginar o que está encoberto pela selva.








Mas enfim, sobre lugares assim não há muito como falar, são mesmo indescritíveis.











Passamos o dia todo por ali e, quando justamente estávamos saindo da praça para começar a caminhada de volta, dois condores, pássaros enormes e sagrados dos Andes, passaram voando calmamente sobre as nossas cabeças. Depois dessa despedida mítica e com o sol se pondo caminhamos de volta para Marampata.



No dia seuinte saímos cedinho e fizemos a caminhada toda de volta até Cachoras no mesmo dia, debaixo de sol forte. Chegamos no fim do dia e fizemos um baita jantarzão pra comemorar os dias de caminhada e nos despedir mais uma vez. Para voltar até a estrada acabamos subindo de carro, com as bicicletas no teto, pois depois da caminhada não tínhamos disposição para a subidinha cruel. De volta ao asfalto, nos despedimos Planejando Nos encontrarmos outra vez na Colômbia ou Equador e seguimos cada um prum lado. Matt seguia em frete para Abancay para continuar pelo alto dos Andes e eu voltava a Curahuassi, por onde tinha vindo, para ir por outro caminho e entrar na selva, na Amazônia peruana.